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1Timóteo: Trabalhando pela ordem na casa de Deus

Comentário Bíblico / Produzido por Projeto Teologia do Trabalho
1 timothy

Cada uma das três epístolas pastorais assume a forma de uma carta do apóstolo Paulo dando conselhos a um de seus cooperadores. [1] Em 1Timóteo, Paulo dá instruções a seu colega mais jovem, Timóteo, sobre como ministrar na igreja e como lidar com falsos mestres. No entanto, as últimas palavras da carta — “A graça seja com vocês [plural]” (1Tm 6.21) — indicam que a carta deve ser ouvida por toda a igreja em Éfeso, para que todos possam se beneficiar do conselho de Paulo a Timóteo.

Como as cartas compartilham alguns temas comuns, combinaremos nossa discussão de passagens relacionadas entre as cartas. Os temas serão explorados de acordo com a ordem em que surgem pela primeira vez nas epístolas pastorais.

Conectando crença e comportamento no trabalho (1Tm 1.1-11, 18-20; 3.14-16)

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Um dos temas repetidos e enfatizados em 1Timóteo é a estreita conexão entre crença e comportamento, ou ensino e prática. O ensino sólido ou a “sã doutrina” leva à piedade, enquanto o falso ensino é, na melhor das hipóteses, improdutivo e, na pior, condenatório. Desde o início da carta, Paulo exorta Timóteo a “ordenar a certas pessoas que não mais ensinem doutrinas falsas” (1Tm 1.3), porque essa doutrina diferente, junto com “mitos e genealogias”, não promove “a obra de Deus, que é pela fé” (1Tm 1.4).

Paulo está falando da importância da sã doutrina na igreja, mas suas palavras se aplicam igualmente ao local de trabalho. W. Edwards Deming, um dos fundadores do conceito da melhoria contínua da qualidade, chamou seus métodos de “sistema de conhecimento profundo”. Ele disse: “Uma vez que o indivíduo entenda o sistema do conhecimento profundo, ele aplicará seus princípios em todos os tipos de relacionamento com outras pessoas. Ele terá uma base para julgamento de suas próprias decisões e para a transformação das organizações às quais pertence”. [1] O conhecimento da verdade mais profunda é essencial em qualquer organização.

Luke Timothy Johnson apresentou uma tradução mais transparente de 1Timóteo 1.4: “A maneira de Deus ordenar a realidade, conforme é apreendida pela fé”. [2] A igreja é — ou deveria ser — ordenada de acordo com o caminho de Deus. Poucos contestariam isso. Mas outras organizações também devem ser ordenadas de acordo com o caminho de Deus? O mundo greco-romano do primeiro século acreditava que a sociedade deveria ser ordenada de acordo com a “natureza”. Portanto, se a natureza é a criação de Deus, então a maneira de Deus ordenar a criação deve se refletir em como a sociedade também é ordenada. Como Johnson observa: “Não há descontinuidade radical entre a vontade de Deus e as estruturas da sociedade. As estruturas do oikos (família) e da ekklēsia (igreja) não são apenas continuidade uma da outra, mas ambas são partes da dispensação [administração] de Deus no mundo”. [3] Locais de trabalho, casas e igrejas refletem a única e singular ordem da criação.

Uma verdadeira compreensão dos caminhos de Deus é essencial em todos os locais de trabalho. Por exemplo, um tema proeminente na Criação é que os seres humanos foram criados bons. Mais tarde, caímos em pecado, e uma verdade cristã central é que Jesus veio para redimir os pecadores. Os trabalhadores são, portanto, seres humanos que pecam, mas que podem experimentar a redenção e se tornar bons como Deus sempre quis. A verdade sobre bondade, pecado e redenção precisa ser considerada nas práticas organizacionais. Nem as igrejas nem os locais de trabalho podem funcionar adequadamente se presumirem que as pessoas são apenas boas e não pecadoras. As contas precisam ser auditadas e o assédio precisa ser interrompido. O atendimento ao cliente precisa ser recompensado. Sacerdotes e pastores, funcionários e executivos precisam ser supervisionados. Da mesma forma, nem as igrejas nem os locais de trabalho podem presumir que as pessoas que erram ou pecam devem ser descartadas automaticamente. A oferta de redenção — e ajuda prática para fazer a transformação — precisa ser feita. Nas igrejas, o foco está na redenção espiritual e eterna. Os locais de trabalho fora da igreja estão focados em uma redenção mais limitada relacionada à missão da organização. Programas de liberdade condicional, planos de melhoria de desempenho, reciclagem, transferência para um cargo diferente, orientação e programas de assistência aos funcionários — em oposição à demissão imediata — são exemplos de práticas redentoras em certos locais de trabalho, especialmente no Ocidente. As particularidades do que é realmente redentor variarão consideravelmente, é claro, dependendo do tipo de organização, de sua missão, do ambiente cultural, legal e econômico e de outros fatores.

Se os cristãos no mercado de trabalho devem entender como Deus deseja que eles e aqueles ao seu redor ajam (cf. 1Tm 3.15), devem entender a revelação de Deus na Bíblia e crer nela. A verdade leva ao amor (1Tm 1.5), enquanto a falsa doutrina promove “controvérsias” (1Tm 1.4), “brigas” (1Tm 6.4) e destruição espiritual (1Tm 1.19). O conhecimento dos caminhos de Deus, conforme revelados em sua palavra, não pode ser domínio apenas dos estudiosos da Bíblia, nem o entendimento bíblico é relevante apenas dentro da igreja. Os obreiros cristãos também devem ser biblicamente instruídos para que possam operar no mundo de acordo com a vontade de Deus e para a glória dele.

Todos os cristãos têm um papel de liderança, independentemente de seu lugar na organização. Os executivos geralmente têm a maior oportunidade de moldar a estratégia e a estrutura de uma organização. Todos os trabalhadores têm oportunidades contínuas de desenvolver bons relacionamentos, produzir produtos e serviços excelentes, agir com integridade, ajudar os outros a desenvolverem suas habilidades e moldarem a cultura de seus grupos de trabalho imediatos. Todos têm uma esfera de influência no trabalho. Paulo aconselhou Timóteo a não permitir que sua percepção de falta de status o impedisse de tentar fazer a diferença. “Ninguém o despreze pelo fato de você ser jovem, mas seja um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza” (1Tm 4.12).

É interessante notar que parte dessa realidade já é percebida nos locais de trabalho contemporâneos. Muitas organizações têm “declarações de missão” e “valores fundamentais”. Essas palavras significam aproximadamente a mesma coisa para as organizações seculares que “crenças” ou “doutrina” significam para as igrejas. As organizações, como as igrejas, prestam muita atenção à cultura. Essa é mais uma evidência de que o que os trabalhadores acreditam ou o que uma organização ensina afeta o comportamento das pessoas. Na medida do possível, os cristãos no local de trabalho devem estar na vanguarda da formação dos valores, da missão e da cultura das organizações das quais participamos.

Oração, paz e ordem são necessárias no trabalho, como na igreja (1Tm 2.1-15)

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Paulo começa este capítulo exortando “que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que exercem autoridade” (1Tm 2.1-2). O objetivo desta oração é que os cristãos venham a levar “uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade” (1Tm 2.2). Presumivelmente, esses governantes do primeiro século tinham o poder de tornar a vida difícil e perturbadora para os cristãos. Por isso, Paulo exorta os cristãos a orarem por seus governantes cívicos. Oração, paz e ordem são os primeiros instrumentos de engajamento dos cristãos com o mundo secular.

Novamente, vemos que as instruções de Paulo estão fundamentadas na unicidade de Deus, na singularidade de Cristo como mediador, no resgate universal de Cristo e no desejo universal de Deus de que todos sejam salvos (1Tm 2.3-7). Cristo é o Senhor da criação e o Salvador do mundo. Seu reino inclui todos os locais de trabalho. Os cristãos devem orar por todos aqueles que estão em seu local de trabalho específico, especialmente aqueles que têm funções de supervisão, em posições de “autoridade”. Os cristãos devem se esforçar para fazer seu trabalho sem interromper o trabalho dos outros, sem chamar indevidamente atenção para si mesmos e sem desafiar constantemente a autoridade — em outras palavras, trabalhando “com toda a piedade e dignidade” (1Tm 2.2). Para os cristãos, esse tipo de comportamento pacífico e submisso não é motivado pelo medo, pelo desejo de agradar às pessoas ou pela conformidade social, mas por uma apreciação saudável pela ordem que Deus estabeleceu e pelo desejo de que os outros “cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2.4). Como Paulo diz em outro lugar: “Deus não é Deus de desordem, mas de paz” (1Co 14.33).

Isso entra em conflito com o dever de estar na vanguarda da formação da missão e dos valores fundamentais de nosso local de trabalho? Alguns cristãos tentam moldar missões e valores por meio do confronto em torno de questões controversas, como benefícios para parceiros do mesmo sexo, exclusão de aborto e/ou contraceptivos nos planos de saúde, organização sindical, exibição de símbolos religiosos e afins. Se bem-sucedida, essa abordagem pode ajudar a moldar a missão e o valor da organização. Mas muitas vezes atrapalha o trabalho dos outros, quebra a paz e desrespeita a autoridade dos supervisores.

O que é necessário é um engajamento mais pessoal, mais profundo e mais respeitoso com a cultura organizacional. Em vez de entrar em conflito sobre os benefícios para a saúde, os cristãos não poderiam investir em amizades com colegas de trabalho e se tornar uma fonte de aconselhamento ou sabedoria para aqueles que enfrentam grandes decisões na vida? Em vez de ultrapassar os limites entre liberdade de expressão e assédio, os cristãos não poderiam fazer o trabalho que lhes foi designado com tanta excelência a ponto de os colegas de trabalho pedirem a eles que expliquem qual é a fonte de sua força? Em vez de discutir sobre questões periféricas, como decoração de festas, os cristãos não poderiam ajudar a melhorar as atividades principais no trabalho, como desempenho, atendimento ao cliente e design de produtos, e, assim, conquistar o respeito das pessoas ao redor? Ao responder a essas perguntas, podemos lembrar que o conselho de Paulo a Timóteo é equilibrado, não contraditório. Viver em paz e cooperação com aqueles que nos rodeiam. Procurar influenciar os outros servindo-os, e não tentando dominá-los. Não foi isso que o Rei dos reis fez?

Integridade e capacidade relacional são qualidades-chave de liderança (1Tm 3.1-13; Tt 1.5-9)

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O texto de 1Timóteo 3.1-13 é bem conhecido e encontra um paralelo em Tito 1.5-9. Tanto 1Timóteo 3.1-7 quanto Tito 1.5-9 estabelecem qualificações para bispos e presbíteros, [1] enquanto 1Timóteo 3.8-13 descreve as qualificações para diáconos, possivelmente incluindo diaconisas. Uma variedade de qualificações é dada, mas o traço comum parece ser a integridade moral e a capacidade de se relacionar bem com as pessoas. Competência para ensinar, embora mencionada como uma qualificação para os bispos (1Tm 3.2; Tt 1.9), não recebe a mesma ênfase em geral. Nessas listas, observamos novamente a conexão entre a família e a igreja: administrar bem a família é visto como experiência necessária para administrar a família de Deus (1Tm 3.4-5, 12; Tt 3.6; cf. 1Tm 3.15). Refletiremos mais sobre essa conexão em uma seção subsequente.

Como observado anteriormente, diferentes organizações têm missões diferentes. Portanto, a qualificação para a liderança é diferente. Seria uma aplicação errônea dessa passagem usá-la como uma lista geral de qualificações para o trabalho. “Sérios” (1Tm 3.8, NTLH) pode não ser uma qualificação adequada para um guia turístico, por exemplo. Mas e a prioridade à integridade moral e à capacidade relacional? Qualidades morais, como “irrepreensível”, de “consciência limpa”, “confiáveis em tudo”, e qualidades relacionais, como “hospitaleiro”, “pacífico” e “moderado”, são habilidades e experiências muito mais proeminentes do que específicas.

Se isso é verdade para a liderança da igreja, também se aplica à liderança no trabalho? As falhas morais e relacionais bem divulgadas de alguns líderes empresariais e governamentais de destaque nos últimos anos tornaram a integridade, o caráter e os relacionamentos mais importantes do que nunca na maioria dos locais de trabalho. Não é menos importante desenvolver e selecionar líderes adequadamente nos locais de trabalho do que nas igrejas. Contudo, à medida que nos preparamos para emprego e carreira, será que dedicamos uma fração de nosso esforço tanto no desenvolvimento de caráter ético e habilidades relacionais quanto no desenvolvimento de habilidades especializadas e no acúmulo de credenciais?

Curiosamente, muitos dos líderes da igreja primitiva também eram líderes no local de trabalho. Lídia negociava a valiosa commodity de corante púrpura (At 16.14, 40). Dorcas era uma fabricante de roupas (At 9.26-41). Áquila e Priscila eram fabricantes de tendas (ou coureiros) que se tornaram parceiros comerciais de Paulo (At 18.2-3). Esses líderes foram eficazes na igreja depois de já terem se mostrado eficazes no local de trabalho e conquistado o respeito da comunidade em geral. Talvez as qualificações básicas de liderança na igreja, no trabalho e nas esferas cívicas tenham muito em comum.

A criação de Deus é boa (1Tm 4.1-5)

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A primeira carta a Timóteo declara “a maneira de Deus ordenar a realidade” e que esse ordenamento divino tem implicações sobre como os cristãos devem se comportar em casa, na igreja e — por uma extensão da lógica do texto — no trabalho. A afirmação mais clara da ordem de criação de Deus vem em 1Timóteo 4.1-5. Em 1Timóteo 4.4 Paulo afirma claramente: “Tudo o que Deus criou é bom”. Esse é um claro eco de Gênesis 1.31: “Deus viu tudo o que havia feito, e tudo havia ficado muito bom”. Dentro do contexto da carta, essa avaliação extremamente positiva da criação é usada para combater os falsos mestres que proíbem o casamento e certos alimentos (1Tm 4.3). Paulo se opõe ao ensino deles, afirmando que essas coisas devem ser recebidas com ação de graças (1Tm 4.3-4). A comida, e qualquer outra coisa na criação de Deus, é “santificada” pela palavra de Deus e pela oração (1Tm 4.5). Isso não significa que a palavra e a oração fazem a criação de Deus ser boa caso ela não seja. Em vez disso, ao reconhecer Deus com gratidão como o criador e provedor de todas as coisas, um cristão separa as coisas criadas, como alimento, para um propósito santo e que honra a Deus. Como cristão, é possível até comer e beber para a glória de Deus (1Co 10.31).

Essa afirmação da criação significa que não há material criado inerentemente mau com o qual trabalhar, e nenhum trabalho envolvido com a criação que seja inaceitável para os cristãos, se não violar a vontade de Deus. Em outras palavras, um cristão pode cavar poços, projetar chips de computador, lavar banheiros, andar na Lua, consertar telefones celulares, plantar ou colher árvores para a glória de Deus. Nenhum desses empregos ou materiais é inerentemente maligno. De fato, todo trabalho pode agradar a Deus. Isso pode parecer intuitivo para aqueles no mundo ocidental moderno que não lutam muito com o ascetismo, como os antigos gregos e romanos lutavam. Mas 1Timóteo 4.4 nos lembra até mesmo de não vermos o reino material como algo neutro em valor moral ou ver coisas como a tecnologia, por exemplo, como inerentemente más. A bondade de toda a criação de Deus nos permite viver e trabalhar em alegre liberdade, recebendo todas as coisas como vindas das mãos de Deus.

Bons relacionamentos surgem do respeito genuíno (1Tm 5.1—6.2; Tt 2.1-10)

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O texto de 1Timóteo 4.6-16 está repleto de diretrizes específicas de Paulo para Timóteo. Seria útil que os obreiros cristãos se lembrassem de que o treinamento em piedade é um componente crucial do desenvolvimento profissional (cf. 1Tm 4.8). Passamos rapidamente desta seção, no entanto, para a próxima, que abrange 1Timóteo 5.1—6.2. Novamente, esta seção é semelhante a outra, de Tito 2.1-10. Ser membro da igreja não deve nos levar a explorar os outros dentro da igreja (cf. 1Tm 5.16; 6.2), mas sim a trabalhar mais para abençoá-los. Isso se aplica também no trabalho.

Em particular, essas duas passagens descrevem como homens e mulheres, idosos e jovens, senhores e escravos devem se comportar dentro da família de Deus. Os dois primeiros versículos desta seção em 1Timóteo são importantes. “Não repreenda asperamente o homem idoso, mas exorte-o como se ele fosse seu pai; trate os jovens como a irmãos; as mulheres idosas, como a mães; e as moças, como a irmãs, com toda a pureza”. Esse mandamento não diminui nenhuma distinção entre famílias e igreja (como 1Tm 5.4, 8 deixa claro), mas sugere que a bondade, a compaixão, a lealdade e a pureza que devem caracterizar nossos relacionamentos familiares mais íntimos também devem caracterizar nossos relacionamentos com os membros da família de Deus, a igreja.

A exortação de Paulo para agir “com toda a pureza” nos lembra que violações dos limites sexuais ocorrem em famílias e igrejas, bem como nos locais de trabalho. O assédio sexual pode passar despercebido — até mesmo daqueles que não estão sendo assediados — nos locais de trabalho. Podemos trazer uma bênção a todo tipo de local de trabalho prestando mais atenção em como homens e mulheres são tratados e desafiando palavras e ações inadequadas e abusivas.

É certo pensar em um local de trabalho como uma família? Não e sim. Não, não é verdadeiramente uma família, pelas razões retratadas de forma tão divertida na série de televisão The Office. A participação em um local de trabalho está condicionada ao desempenho adequado de uma função. Ao contrário dos membros da família, os funcionários que não são mais aprovados pela administração estão sujeitos a demissão. O emprego não é permanente, não é “algo que você, de alguma forma, não merece”. [1] Seria ingênuo — possivelmente até abusivo — fingir que um local de trabalho é uma família.

No entanto, em certos sentidos, um local de trabalho pode ser como uma família, se esse termo for usado para descrever o respeito, o compromisso, a comunicação aberta e o cuidado que os membros da família devem mostrar uns aos outros. Se os cristãos fossem conhecidos por tratar os colegas de trabalho da mesma forma, isso poderia ser um grande ponto do serviço redentor da igreja ao mundo. A mentoria, por exemplo, é um serviço extremamente valioso que trabalhadores experientes podem oferecer a colegas mais novos. Assemelha-se ao investimento que os pais fazem em seus filhos. E, assim como protegemos os membros da família contra abuso e exploração, o amor de Cristo nos impele a fazer o mesmo pelas pessoas no trabalho. Certamente, nunca devemos nos envolver em abuso ou exploração de outras no trabalho, por imaginar que lhes devemos menos respeito ou cuidado do que aos membros da família (ou da igreja). Em vez disso, devemos nos esforçar para amar todos os nossos semelhantes, incluindo aqueles no local de trabalho, como nossa família e como nós mesmos.

Piedade com contentamento é um grande lucro (1Tm 6.3-10, 17-19)

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A última seção de 1Timóteo está repleta de poderosas exortações e advertências para os cristãos ricos. (Vamos pular as recomendações de Paulo a Timóteo nos versículos 11-16;20, que são direcionadas a Timóteo em sua situação particular.) 1Timóteo 6.3-10 e 17-19 têm aplicações diretas no local de trabalho. Ao ler e aplicar essas passagens, entretanto, devemos evitar dois erros comuns.

Primeiro, essa passagem não ensina que não há “lucro” em ser piedoso. Quando Paulo escreve que aqueles que “têm a mente corrompida e que são privados da verdade” imaginam que “a piedade é fonte de lucro” (1Tm 6.5), o que ele está denunciando é a mentalidade de que a piedade necessariamente leva a ganho financeiro nesta vida ou que a piedade deve ser buscada em prol do ganho financeiro imediato. A loucura desse pensamento é tripla:

  1. Deus muitas vezes chama seus santos para sofrerem carência material nesta vida e, portanto, o povo de Deus não deve colocar sua esperança na “incerteza da riqueza” (1Tm 6.17).

  2. Mesmo que alguém receba grandes riquezas nesta vida, o ganho é de curta duração, porque, como John Piper coloca, “não há reboques atrás de carros funerários” (1Tm 6.7). [1]

  3. O desejo de riqueza leva ao mal, à apostasia, à ruína e à destruição (1Tm 6.9-10).

Observe cuidadosamente, porém, que Paulo encoraja seus leitores a saberem que a piedade é grande fonte de lucro quando combinada com contentamento nas necessidades básicas da vida (1Tm 6.6, 8). Nosso Deus é um Deus “que de tudo nos provê ricamente, para a nossa satisfação” (1Tm 6.17). Paulo ordena aos ricos justos que “pratiquem o bem, sejam ricos em boas obras, generosos e prontos a repartir” (1Tm 6.18) — não que vendam tudo o que têm e empobreçam. Eles devem ser ricos em boas obras para que possam acumular “um tesouro para si mesmos, um firme fundamento para a era que há de vir, e assim alcançarão a verdadeira vida” (1Tm 6.19). Em outras palavras, a piedade é um meio de ganho, desde que esse ganho seja entendido como vida e bênçãos na presença de Deus, e não apenas como mais dinheiro agora. A exortação de Paulo em 1Timóteo 6.18-19 é semelhante ao ensinamento de Jesus: “Mas acumulem para vocês tesouros nos céus, onde a traça e a ferrugem não destroem e onde os ladrões não arrombam nem furtam” (Mt 6.20; cf. Mt 19.21; Lc 12.33).

O segundo erro a ser evitado é pensar que essa passagem e sua condenação ao amor ao dinheiro significam que nenhum obreiro cristão deve buscar aumento ou promoção, ou que nenhuma empresa cristã deve tentar lucrar. Existem muitas razões pelas quais alguém poderia querer mais dinheiro; algumas delas podem ser ruins, mas outras podem ser boas. Se alguém quisesse mais dinheiro pelo status, pelo luxo ou pelo aumento do ego que isso proporcionaria, então realmente cairia na repreensão desta seção das Escrituras. Mas, se alguém quisesse ganhar mais dinheiro para sustentar adequadamente seus dependentes, dar mais às causas que honram a Cristo ou investir na criação de bens e serviços que permitissem à comunidade prosperar, não seria mau querer mais dinheiro. [2] Rejeitar o amor ao dinheiro não é se opor a todo desejo de ser bem-sucedido ou lucrativo no trabalho.