1 e 2Tessalonicenses e o trabalho
Comentário Bíblico / Produzido por Projeto Teologia do TrabalhoIntrodução a 1 e 2Tessalonicenses
Voltar ao índice Voltar ao índiceQual era o ponto principal de Paulo em suas cartas aos tessalonicenses?
Em suas cartas aos tessalonicenses, Paulo deixou claro que os cristãos precisam continuar seu trabalho observando o perfil de serviço e excelência; que a obra de Jesus não substituía o trabalho dos próprios crentes.
“Trabalhamos duro para que você não precise fazer isso.” Essa é a linha de propaganda de um limpador de banheiro moderno, [1] mas — com um pequeno ajuste — poderia ter se encaixado bem como um slogan para alguns cristãos na antiga cidade de Tessalônica: “Jesus trabalhou duro para que eu não precisasse fazê-lo”. Muitos acreditavam que o novo estilo de vida oferecido por Jesus era motivo para abandonar o antigo estilo de vida que envolvia trabalho árduo, e assim eles se tornaram ociosos. Como veremos, é difícil saber exatamente por que alguns tessalonicenses não estavam trabalhando. Talvez eles tenham pensado erroneamente que a promessa de vida eterna significava que esta vida não importava mais. Mas esses ociosos estavam vivendo da generosidade dos membros mais responsáveis da igreja. Estavam consumindo os recursos destinados a atender às necessidades daqueles genuinamente incapazes de se sustentar. E eles estavam se tornando problemáticos e briguentos.
Em suas cartas aos tessalonicenses, Paulo não permitiria nada disso. Ele deixou claro que o caminho de Cristo não é ociosidade, mas serviço e excelência no trabalho.
Qual foi a história de Tessalônica e sua igreja?
Capital da província romana da Macedônia e um importante porto marítimo do Mediterrâneo, Tessalônica tinha uma população de mais de 100 mil habitantes. [2] Além de contar com um porto natural, localizava-se nas principais rotas comerciais entre o norte e o sul e na movimentada Via Egnácia, a estrada que corria de leste a oeste e ligava a Itália às províncias orientais. As pessoas de aldeias vizinhas eram atraídas para essa grande cidade, um movimentado centro de comércio e filosofia. Os recursos naturais de Tessalônica incluíam madeira, grãos, frutas continentais e ouro e prata (embora se questione se as minas de ouro e prata estavam operacionais no século 1 d.C.). Tessalônica também era notavelmente pró-romana e autogovernada, e desfrutava do status de cidade livre. Como seus cidadãos eram cidadãos romanos, estava isenta de pagar tributo a Roma. [3]
A igreja em Tessalônica foi fundada por Paulo e seus cooperadores Timóteo e Silas, durante a chamada Segunda Viagem Missionária, em 50 d.C. Deus operou poderosamente por meio de missionários, e muitos se tornaram cristãos. Embora alguns judeus tenham acreditado (At 17.4), a maioria da igreja era formada por gentios (1Ts 1.9-10). Mesmo contando com alguns membros relativamente ricos — como Jasom, Aristarco e várias “mulheres de alta posição” (At 17.4, 6-7; 20.4) —, parece ter consistido em grande parte de trabalhadores braçais (1Ts 4.11) e, presumivelmente, de algumas pessoas escravizadas. Em 2Coríntios, Paulo afirma que as “igrejas da Macedônia” eram marcadas pela “extrema pobreza” (2Co 8.2), e a igreja de Tessalônica teria sido incluída em suas fileiras.
As circunstâncias precisas que levaram Paulo a escrever essas duas cartas [4] têm sido muito debatidas. Para nossos propósitos, é suficiente dizer que Paulo queria encorajar os crentes que tentavam viver vidas cristãs fiéis em um ambiente pagão hostil. Além das lutas típicas contra coisas como idolatria e imoralidade sexual, eles também estavam confusos sobre o fim dos tempos, o papel do trabalho diário e a vida de fé.
A fé que trabalha, concluir e guardar a fé (1Ts 1.1—4.8; 4.13—5.28; 2Ts 1.1—2.17)
Voltar ao índice Voltar ao índiceComo Paulo conecta fé e trabalho em 1Tessalonicenses?
À luz dos problemas com o trabalho que surgirão mais tarde nas epístolas, é interessante que Paulo comece lembrando o “trabalho que resulta da fé, o esforço motivado pelo amor e a perseverança proveniente da esperança em nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts 1.3). Paulo escreve suas cartas com cuidado e, no mínimo, essa abertura serve para introduzir o vocabulário do trabalho na discussão. O versículo nos lembra que a fé não é simplesmente a aceitação mental das proposições do evangelho. Ele exige trabalho. É a resposta de vida total aos mandamentos e às promessas do Deus que nos renova e nos capacita por meio de seu Espírito. Os tessalonicenses aparentemente estão respondendo bem em sua vida diária de fé, embora precisem de encorajamento para continuar vivendo uma vida de pureza moral (1Ts 4.1-8).
A questão do trabalho surge de maneira direta novamente no capítulo 2, quando Paulo lembra aos tessalonicenses que ele e seus amigos trabalhavam noite e dia para que não fossem pesados para eles (1Ts 2.9). Paulo diz isso para que os tessalonicenses tenham certeza do quanto Paulo se importa com eles, apesar da distância física. Mas também pode servir de repreensão aos membros da congregação que talvez estivessem se aproveitando da generosidade de outros crentes. Se alguém tinha o direito de receber algo dos tessalonicenses, esse alguém era Paulo, cujo trabalho árduo havia mediado a nova vida de Cristo para eles, em primeiro lugar. Mas Paulo não recebeu dinheiro dos tessalonicenses como compensação. Em vez disso, trabalhou duro como comerciante, numa expressão de sua preocupação por eles.
O que 1Tessalonicenses diz sobre trabalho e vida eterna?
Paulo consola os tessalonicenses sobre os que morreram em sua comunidade, lembrando-os de que não estão mortos, mas apenas dormindo; Jesus os despertará no último dia (1Ts 4.13-18). Eles não precisam se preocupar com a chegada desse dia, porque estar nas mãos do Senhor. Sua única preocupação deve ser continuar andando na luz, permanecendo fiéis e esperançosos em meio a um mundo de trevas (1Ts 5.11). Entre outras coisas, significa que eles devem respeitar aqueles que trabalham (1Ts 5.12-13; a referência pode ser ao “trabalho” de instruir as pessoas na fé, mas poderia igualmente ser a trabalhadores em geral, em contraponto aos que não trabalhavam) e repreender os ociosos entre eles (1Ts 5.14). A promessa de vida eterna é mais uma razão — e não menos — para trabalhar arduamente nesta vida, pois o bem que fazemos dura para sempre, porque “somos do dia” da redenção de Cristo, e não da noite da perdição (1Ts 5.4-8). Cada dia nos dá a oportunidade de sermos “bondosos uns para com os outros e para com todos” (1Ts 5.15).
Qual é o ponto principal de 2Tessalonicenses?
Logo no início de 2Tessalonicenses somos informados de que Paulo ainda está feliz com o fato de os tessalonicenses estarem guardando a fé em um ambiente difícil, e ele os encoraja dizendo que Jesus voltará para consertar todas as coisas (2Ts 1.1-12). Mas alguns deles estão preocupados que o Dia do Senhor já tenha chegado e que eles o tenham perdido. Paulo lhes diz que o dia não chegou e, de fato, não chegará até que Satanás faça uma última grande tentativa de enganar o mundo por meio do “perverso” (presumivelmente a figura que comumente chamamos de “o Anticristo”; 2Ts 2.8). Eles devem ter coragem: Deus julgará Satanás e seus asseclas, mas trará bênçãos eternas a seus filhos amados (2Ts 2.9-17).
O problema da ociosidade em Tessalônica (1Ts 4.9-12 e 2Ts 3.6-16)
Voltar ao índice Voltar ao índiceO que Paulo diz sobre a ociosidade em Tessalônica?
O trabalho é abordado de maneira direta em 1Tessalonicenses 4.9-12 e 2Tessalonicenses 3.6-16. [1] Os estudiosos continuam a debater o que exatamente levou ao problema da ociosidade em Tessalônica. Embora estejamos mais preocupados em saber como Paulo deseja que o problema seja resolvido, será útil fazer algumas conjecturas sobre como o problema pode ter surgido.
Muitos acreditam que alguns dos tessalonicenses pararam de trabalhar porque o fim dos tempos estava próximo. [2] Eles podem ter sentido que já estavam vivendo no reino de Deus e que não havia necessidade de trabalhar; ou eles podem ter sentido que Jesus estava voltando a qualquer minuto e, portanto, não havia sentido em trabalhar. As cartas de Tessalonicenses falam bastante sobre mal-entendidos relacionados ao fim dos tempos, e é interessante que as passagens sobre ociosidade em 1Tessalonicenses 4.9-12 e 2Tessalonicenses 3.6-16 surjam no contexto do ensino sobre o fim dos tempos. Em contrapartida, Paulo não faz uma conexão explícita entre ociosidade e escatologia.
Outros já sugeriram uma razão “mais nobre” para a ociosidade: as pessoas haviam desistido de seu emprego diário para pregar o evangelho. (Pode-se ver como esse movimento seria facilitado se eles tivessem o tipo de fervor escatológico observado na primeira visão.) [3] Esses pretensos evangelistas contrastam fortemente com Paulo, o principal evangelista da lista, que, no entanto, trabalha com as próprias mãos para não se tornar um fardo para a igreja. As igrejas na Macedônia eram conhecidas por seu zelo evangelístico, mas ainda não está claro se os ociosos em Tessalônica estavam necessariamente usando seu tempo livre para trabalhos evangelísticos.
Uma terceira visão vê o problema como mais sociológico que teológico. [4] Alguns trabalhadores braçais estavam desempregados (seja por preguiça, perseguição seja por problema econômico geral) e se tornaram dependentes da caridade de outros na igreja. Eles descobriram que a vida como cliente de um patrono rico era significativamente mais fácil do que a vida de um trabalhador que se esforçava para cumprir um dia de trabalho. A injunção para que os cristãos cuidassem uns dos outros serviu de pretexto para que continuassem nesse estilo de vida parasitário.
É difícil escolher entre essas diferentes reconstruções. Todos elas têm algo nas cartas para apoiá-las, e não é difícil ver analogias modernas na igreja atual. Muitas pessoas hoje subestimam o trabalho diário porque “Jesus está voltando em breve, e tudo vai queimar de qualquer maneira”. Muitos obreiros cristãos justificam um desempenho abaixo do padrão porque seu propósito “real” no local de trabalho é evangelizar os colegas. E questões de dependência inútil da caridade de outros surgem tanto no contexto local (por exemplo, pastores aos quais se solicitam dinheiro para um homem cuja mãe morreu... pela terceira vez no ano) quanto no contexto global (por exemplo, a questão de saber se alguma ajuda externa faz mais mal do que bem).
Podemos, no entanto, avançar, mesmo sem a completa certeza sobre os acontecimentos que levaram ao problema da ociosidade em Tessalônica. Primeiro, podemos notar que as visões acima compartilham uma suposição comum, mas falsa (a saber, a vinda de Cristo ao mundo diminuiu radicalmente o valor do trabalho diário. As pessoas estavam usando algum aspecto do ensino de Cristo — fosse sua segunda vinda, ou sua comissão para evangelizar o mundo, ou sua ordem de participação radical na comunidade) para justificar sua ociosidade. Paulo não aceitaria nada disso. A vida cristã responsável abrange o trabalho, até mesmo o trabalho árduo e braçal do primeiro século. Está igualmente claro que Paulo fica perturbado quando as pessoas se aproveitam da generosidade de outros, na igreja. Se as pessoas podem trabalhar, devem trabalhar. Finalmente, a ociosidade dos cristãos parece ter dado má reputação à igreja dentro da comunidade pagã.
Espera-se que os cristãos trabalhem (1Tessalonicenses 4.9-12; 5.14)
Voltar ao índice Voltar ao índiceDeus espera que os cristãos trabalhem?
Paulo destaca que Deus espera que todo cristão que possa trabalhar o faça (1Ts 4.11-12). Ele exorta os tessalonicenses a trabalharem “com as próprias mãos” (1Ts 4.11) e que “não dependam de ninguém” (1Ts 4.12). Em vez de fugir do trabalho, os cristãos tessalonicenses devem ser diligentes, trabalhando para ganhar a vida e, assim, evitar colocar encargos indevidos em outros. Ser trabalhador braçal em uma cidade greco-romana era uma vida difícil para os padrões modernos e antigos, e a ideia de que isso poderia não ser necessário deve ter sido atraente. No entanto, abandonar o trabalho em favor de viver do esforço de outros é inaceitável. É impressionante que o tratamento que Paulo dá à questão em 1Tessalonicenses seja enquadrado em termos de “amor fraternal” (1Ts 4.9). A ideia é claramente que o amor e o respeito são essenciais nos relacionamentos cristãos, e que viver desnecessariamente da caridade dos outros é desamoroso e desrespeitoso para com o(s) irmão(s) caridoso(s) em questão.
É importante lembrar que trabalho nem sempre significa ser remunerado. Muitas formas de trabalho — cozinhar, limpar, consertar, embelezar, criar filhos, treinar jovens e milhares de outros — atendem às necessidades da família ou da comunidade, mas não recebem remuneração. Outras — as artes me vêm à mente — podem ser oferecidas gratuitamente ou a preços muito baixos para sustentar aqueles que as fazem. No entanto, todas são trabalho.
Não se espera necessariamente que os cristãos ganhem dinheiro, mas que trabalhem para sustentar a si, sua família, a igreja e a comunidade.
O mandato da criação ainda está em vigor?
O mandato da criação em Gênesis 2.15 (“O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo”) ainda está em vigor. A obra de Cristo não eliminou ou suplantou o trabalho original da humanidade, mas o tornou mais frutífero e, em última análise, valioso. Paulo pode ter o texto de Gênesis 2.15 em vista quando ele se refere aos ociosos com o adjetivo, advérbio e verbo gregos derivados da raiz atakt- (“desordem”) em 1Tessalonicenses 5.14, 2Tessalonicenses 3.6;11, e 1Tessalonicenses 5.7, respectivamente. Todas essas palavras retratam o comportamento dos ociosos como desordenado, deixando transparecer uma “atitude irresponsável em relação à obrigação de trabalhar”. [1] A ordem que está sendo violada pode muito bem ser o mandato de trabalho em Gênesis 2.
A insistência de Paulo na validade contínua do trabalho não é uma concessão à agenda burguesa, mas reflete uma perspectiva equilibrada sobre o já/ainda não do reino de Deus. O reino de Deus já veio à terra na pessoa de Jesus, mas ainda não foi concluído (1Ts 4.9-10). Quando os cristãos trabalham com diligência e excelência, demonstram que o reino de Deus não é uma fantasia escapista, mas o cumprimento da realidade mais profunda do mundo.
Como os cristãos devem trabalhar?
Dada a importância do trabalho, os cristãos devem ser os melhores trabalhadores que podem ser. Deixar de trabalhar com excelência pode trazer descrédito à igreja. Muitos cínicos no mundo greco-romano abandonaram o emprego, e esse comportamento foi amplamente considerado como vergonhoso. [2] Paulo está ciente de que, quando os cristãos se esquivam de sua responsabilidade de trabalhar, a posição da igreja como um todo é prejudicada. Em 1Tessalonicenses 4.11-12, Paulo está evidentemente preocupado com o fato de a sociedade estar tendo uma visão errada da igreja. No contexto do mundo greco-romano, sua preocupação faz muito sentido, pois o que estava acontecendo na igreja de Tessalônica não apenas estava abaixo dos padrões de decência da sociedade, mas também fazia os cristãos caridosos parecerem crédulos e tolos. Paulo não quer que os cristãos fiquem abaixo dos padrões da sociedade em relação ao trabalho, mas sim que os excedam. Além disso, ao deixar de cumprir seu papel adequado na sociedade, esses cristãos correm o risco de atiçar mais rumores e ressentimentos anticristãos. Paulo anseia profundamente que aqueles que perseguem a igreja não tenham motivos legítimos para sua hostilidade. No que diz respeito ao trabalho, os cristãos devem ser cidadãos exemplares. Ao colocar os ociosos sob disciplina, a igreja estaria efetivamente se distanciando de seu comportamento errôneo.
Os cristãos maduros devem dar exemplo para os jovens cristãos, servindo de modelo de um bom êthos de trabalho. Embora Paulo soubesse que era direito do ministro do evangelho ser sustentado financeiramente (1Tm 5.17-18), ele mesmo se recusou a tirar vantagem disso (1Ts 2.9; 2Ts 3.8). Viu a necessidade de dar aos novos convertidos um exemplo de como era a vida cristã, e isso significava juntar-se a eles no trabalho braçal. Os filósofos itinerantes do mundo greco-romano costumavam ser rápidos em sobrecarregar financeiramente seus convertidos, mas Paulo não se preocupava com ter uma vida fácil ou projetar uma imagem de superioridade sobre seus tutorados espirituais. Liderança cristã é liderança servidora, mesmo na arena do trabalho.
Deus valoriza o trabalho manual e o trabalho árduo?
A visão positiva do trabalho árduo que Paulo estava promovendo era contracultural. O mundo greco-romano tinha uma visão muito negativa do trabalho manual. [3] Até certo ponto, é compreensível, tendo em vista quanto os casebres urbanos eram desagradáveis. Se os ociosos de Tessalônica fossem de fato trabalhadores braçais desempregados, não é difícil avaliar como teria sido fácil racionalizar essa exploração da caridade de seus irmãos e irmãs em vez de retornar aos casebres. Afinal, todos os cristãos não eram iguais em Cristo? No entanto, Paulo não tem tempo para racionalizações. Ele aborda o assunto a partir de um entendimento fortemente enraizado no Antigo Testamento, em que Deus é retratado como criador de Adão para o trabalho, e o trabalho manual de Adão não está divorciado da adoração, mas, ao contrário, deve ser uma forma de adoração. Na avaliação de Paulo, o trabalho manual não é indigno para os cristãos, e o próprio Paulo fez o que ele exige que esses irmãos ociosos façam. O apóstolo claramente considera o trabalho uma maneira de os crentes poderem honrar a Deus, mostrar amor a seus companheiros cristãos e exibir o poder transformador do evangelho para as pessoas de fora. Ele quer que os irmãos ociosos adotem sua perspectiva e sejam um exemplo impressionante, não vergonhoso, para seus contemporâneos incrédulos.
Aqueles realmente incapazes de trabalhar devem receber assistência (1Ts 4.9-10)
Voltar ao índice Voltar ao índiceO que Paulo diz sobre aqueles que não podem trabalhar?
Paulo é um defensor do bem-estar social e da caridade, mas apenas para aqueles que estão genuinamente necessitados. Considera claramente as primeiras manifestações de provisão generosa para os cristãos tessalonicenses desempregados como expressões apropriadas do amor cristão (1Ts 4.9-10). Além disso, mesmo depois que a expressão de amor por parte de alguns foi explorada egoisticamente por outros, ele ainda pede que a igreja continue a fazer o bem, dando aos que realmente precisam (2Ts 3.13). Teria sido fácil para os benfeitores se desiludirem com as doações de caridade em geral e se afastarem delas no futuro.
O fator-chave para determinar se alguém desempregado era digno de caridade ou assistência social era a disposição de trabalhar (2Ts 3.10). Alguns, que são perfeitamente capazes de trabalhar, não o fazem, simplesmente porque não querem — eles não merecem assistência financeira ou material. Em contrapartida, alguns não podem trabalhar devido a alguma incapacidade ou circunstância atenuante — e claramente merecem assistência financeira e material. O versículo 13 assume que existem casos legítimos de caridade na igreja de Tessalônica.
Na prática, é claro, é difícil determinar quem está relaxando e quem está disposto, mas é genuinamente incapaz de trabalhar ou encontrar um emprego. Se os membros mais unidos da igreja de Tessalônica tinham dificuldade em discernir quem entre eles era digno de receber apoio financeiro, imagine como é muito mais difícil para uma cidade, província ou nação moderna. Essa realidade levou a profundas divisões entre os cristãos com relação à política social, praticada tanto pela igreja quanto pelo Estado. Alguns preferem errar do lado de misericórdia, proporcionando acesso relativamente fácil e benefícios generosos, às vezes de longo prazo, a pessoas em aparentes dificuldades financeiras. Outros preferem errar pelo lado da diligência, exigindo provas relativamente rigorosas de que as dificuldades se devem a fatores além do controle do destinatário e fornecendo benefícios limitados em quantidade e duração. Uma questão particularmente espinhosa tem sido o apoio a mães solteiras com filhos pequenos e a todas as pessoas desempregadas por longos períodos durante recessões econômicas. Esse apoio presta assistência aos membros mais vulneráveis da sociedade, particularmente às crianças de famílias vulneráveis? Ou subsidia uma cultura de afastamento da sociedade trabalhadora, em detrimento tanto do indivíduo quanto da comunidade? Essas são questões difíceis e desafiadoras. Passagens bíblicas como as das cartas aos tessalonicenses devem figurar profundamente na compreensão social e política dos cristãos. Nossas conclusões podem nos colocar em oposição a outros cristãos, mas isso não é necessariamente uma causa para nos afastarmos da participação política e social. No entanto, devemos nos envolver na política e no discurso social com respeito, bondade, uma humildade saudável de que nosso ponto de vista não é infalível e uma consciência de que as mesmas passagens podem levar outros crentes a conclusões contrárias. As cartas tessalonicenses revelam os valores e as percepções de Deus aplicados ao antigo contexto de Tessalônica. Mas elas não constituem um programa social ou partidário indiscutível conforme aplicadas nos contextos muito diferentes de hoje.
É claro que Paulo tem em mente que todos os tessalonicenses cristãos devem trabalhar na medida em que forem capazes, e que a igreja deve cuidar daqueles que realmente precisam. Ele quer que os recursos financeiros dos benfeitores da igreja sejam usados estrategicamente, em vez de desperdiçados. De fato, se os ociosos voltarem ao trabalho, também estarão em condições de ser doadores em vez de receptores, e a capacidade da igreja de espalhar o evangelho e ministrar aos pobres e necessitados dentro e fora da igreja aumentará. A insistência bíblica de que os cristãos devem trabalhar de modo a serem autossustentáveis sempre que possível tem em vista, em última análise, a extensão do reino de Deus sobre a terra.
Ociosidade (2Ts 3.6-15)
Voltar ao índice Voltar ao índiceA ociosidade é uma questão para a comunidade cristã, não apenas para o indivíduo
As palavras de 2Tessalonicenses 3.10 são críticas: “Se alguém não quiser trabalhar, também não coma”. Deus considera que se esquivar do trabalho é uma ofensa grave, tão grave que a igreja é chamada a corrigir seus membros ociosos. Paulo exorta a igreja a que “advirtam” aqueles que se esquivam de sua obrigação de trabalhar (1Ts 5.14) e emite uma ordem, “em nome do nosso Senhor Jesus”, em 2Ts 3.6-15, para que a igreja imponha medidas disciplinares sobre os irmãos infratores. A disciplina é relativamente dura, o que ressalta que a ociosidade não era um ponto fraco menor na avaliação de Paulo. Os crentes são chamados a que “se afastem” daqueles que se esquivam de sua responsabilidade de trabalhar, presumivelmente significando que eles devem evitar incluí-los quando se reúnem em comunhão cristã. A intenção era, é claro, induzir um choque curto e agudo nos irmãos infratores, alienando-os e, assim, trazê-los de volta à linha.
A ociosidade leva ao mal
As consequências negativas de evitar o trabalho vão além do fardo imposto aos outros. Aqueles que fogem do trabalho geralmente acabam gastando seu tempo em atividades prejudiciais. A exortação de Paulo aos trabalhadores manuais de Tessalônica a que “esforcem-se para ter uma vida tranquila” e cuidem “dos seus próprios negócios” (1Ts 4.11) sugere o que 2Tessalonicenses 3.11 declara explicitamente: “Ouvimos que alguns de vocês estão ociosos; não trabalham, mas andam se intrometendo na vida alheia”. A palavra grega periergazomai (“intrometidos”) refere-se a se intrometer nos assuntos de outras pessoas. [1] Um pensamento semelhante é expresso por Paulo em 1Timóteo 5.13, onde Paulo diz que as viúvas mais jovens são apoiadas pela igreja para que “não se [tornem] apenas ociosas, mas também fofoqueiras e indiscretas, falando coisas que não devem”. Parece que os ociosos tessalonicenses estavam interferindo nos negócios de outras pessoas e sendo argumentativos. A ociosidade gera problemas.
Resumo e conclusão de 1 e 2Tessalonicenses
Voltar ao índice Voltar ao índiceComo o discurso de Paulo funciona em suas cartas aos tessalonicenses?
Temas do local de trabalho são entremeados no tecido das cartas de Tessalônica. Eles são mais visíveis em várias passagens explícitas, e especialmente em 2Tessalonicenses. Subjacente a ambas as cartas está o princípio de que os cristãos são chamados a trabalhar na medida em que são capazes. O trabalho é necessário para colocar comida na mesa; portanto, quem come deve ser trabalhador. Além disso, o trabalho é honroso, refletindo a intenção de Deus para a humanidade na criação. Nem todos têm a mesma capacidade de trabalho; portanto, a medida do trabalho não é a quantidade de realizações, mas a atitude de serviço e o compromisso com a excelência. Portanto, aqueles que trabalham tão duro e tão bem quanto podem têm uma participação plena na generosidade da comunidade. Em contraste, aqueles que se esquivam de seu dever de trabalhar devem ser confrontados pela igreja. Se continuarem a ser ociosos, eles não devem ser sustentados por meios alheios. Como último recurso, eles devem até ser removidos da comunidade, pois a ociosidade leva não apenas a consumir o fruto do trabalho dos outros, mas também a uma ruptura ativa da comunidade por meio da intromissão, fofoca e obstrução.