Autossuficiência no lugar da orientação de Deus (2Crônicas 16—20)
Comentário Bíblico / Produzido por Projeto Teologia do TrabalhoMesmo com o declínio da força do reino, os reis continuam convencidos de que estão no controle de sua situação. Confiantes em suas próprias habilidades e confiando em conselheiros humanos, muitas vezes deixam de pedir a orientação de Deus, geralmente com resultados desastrosos.
Em um caso, o rei Acabe, de Israel, está prestes a entrar em batalha. O rei Josafá de Judá o lembra: “Peço-te que busques primeiro o conselho do Senhor” (2Cr 18.4). Acabe consulta os profetas da corte, mas Josafá pergunta se há um profeta genuíno de Deus disponível. Acabe responde: “Ainda há um homem por meio de quem podemos consultar o Senhor, porém eu o odeio, porque nunca profetiza coisas boas a meu respeito, mas sempre coisas ruins. É Micaías, filho de Inlá” (2Cr 18.7). Acabe não quer conselhos do Senhor porque estes não se alinham com suas intenções. Por fim, ele consulta Micaías, que de fato prediz o desastre na batalha; por causa dessa palavra, Acabe o prende e o deixo passar fome (2Cr 18.18-27). Acabe prossegue para a batalha e é morto (2Cr 19.33-34).
Da mesma forma, o rei Asa decide formar uma aliança com o rei da Síria, em vez de confiar na proteção de Deus. Depois disso, ele é desafiado por um vidente que lhe diz: “Por você ter pedido ajuda ao rei da Síria e não ao Senhor, ao seu Deus, o exército do rei da Síria escapou de suas mãos” (2Cr 16.7). Da mesma forma, quando Asa é atingido por uma grave doença nos pés, ele não busca a ajuda do Senhor, mas apenas de médicos (2Cr 16.12), levando à sua morte prematura.
Depois disso, o rei Josafá se lembra de depender da orientação de Deus. Ele instrui seus juízes: “Considerem atentamente aquilo que fazem, pois vocês não estão julgando para o homem, mas para o Senhor, que estará com vocês sempre que derem um veredicto. Agora, que o temor do Senhor esteja sobre vocês. Julguem com cuidado, pois o Senhor, o nosso Deus, não tolera nem injustiça nem parcialidade nem suborno”. (2Cr 19.6-7). Mesmo assim, quando o próprio Josafá enfrenta um vasto exército inimigo em batalha, o profeta Jaaziel precisa lembrá-lo: “Não tenham medo nem fiquem desanimados por causa desse exército enorme. Pois a batalha não é de vocês, mas de Deus” (2Cr 20.15).
Os tipos de trabalho nessas passagens — estratégia militar, medicina e sistema legal — exigem habilidade humana. No entanto, habilidade não é suficiente: a percepção de Deus também é necessária. A maioria dos tipos de trabalho moderno também exige habilidade, e podemos sentir que nossa percepção e treinamento são maiores do que nos tempos antigos. Podemos até pensar que não precisamos — ou não queremos — a orientação de Deus, então confiamos em nossas próprias forças. Deus nos presenteou com sabedoria e discernimento, mas ele quer que busquemos sua face, mesmo que pensemos ter todas as habilidades de que precisamos. Na verdade, as habilidades e o poder modernos tornam maior — não menor — nossa necessidade de confiar em Deus, porque nossa capacidade de causar danos na ausência da orientação de Deus é maior agora do que nunca. Deus nos dá talentos e habilidades por um motivo, e precisamos usá-los em consulta com ele.