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Livro 5 (Salmos 107—150)

Comentário Bíblico / Produzido por Projeto Teologia do Trabalho
Mario botta 83377 620

Os salmos do Livro 5 têm menos tema ou cenário em comum do que os dos outros livros. No entanto, em meio à diversidade de formas e ambientes, o trabalho aparece mais diretamente entre esses salmos do que em outras partes do Saltério. Nestes salmos encontramos questões de criatividade econômica, ética nos negócios, empreendedorismo, produtividade, o trabalho de criar os filhos e administrar uma casa, o uso adequado do poder e a glória de Deus no mundo material e por meio dele.

Deus sustenta todo trabalho e produtividade (Salmos 107)

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O salmo 107 relaciona os esforços econômicos humanos com o mundo da criação de Deus. Vale a pena citar um trecho.

Fizeram-se ao mar em navios, para negócios na imensidão das águas, e viram as obras do Senhor, as suas maravilhas nas profundezas. Deus falou e provocou um vendaval que levantava as ondas. Subiam aos céus e desciam aos abismos; diante de tal perigo, perderam a coragem. Cambaleavam, tontos como bêbados, e toda a sua habilidade foi inútil. Na sua aflição, clamaram ao Senhor, e ele os tirou da tribulação em que se encontravam. Reduziu a tempestade a uma brisa e serenou as ondas. As ondas sossegaram, eles se alegraram, e Deus os guiou ao porto almejado. Que eles deem graças ao Senhor por seu amor leal e por suas maravilhas em favor dos homens. (Sl 107.23-31)

Tanto naquela época quanto agora, as pessoas iam para o mar para pescar e fazer comércio. Seus navios eram frágeis e eles não tinham como prever com antecedência a chegada de uma tempestade. A vida e seus meios de subsistência dependiam do clima. Apesar de nossas vantagens tecnológicas, também dependemos de uma infinidade de fatores que estão além de nosso controle em grande parte de nosso trabalho. Aa coisa mais honesta que alguém pode dizer sobre o sucesso no trabalho talvez seja isso: “Eu tive sorte”. Como Bill Gates observou sobre o incrível sucesso da Microsoft: “Eu nasci no lugar certo e no momento certo”. [1] Para o crente, o fator “sorte” é visto como a provisão constante de Deus para nossas necessidades. Para obter sucesso mesmo com as incertezas inerentes ao nosso trabalho, dependemos um pouco da habilidade (um dom de Deus em si), um pouco do trabalho árduo e muito da providência de Deus. Seja qual for nosso “porto almejado” na vida e no trabalho, que possamos das “graças ao Senhor por seu amor leal e por suas maravilhas em favor dos homens”. Talvez Tiago tivesse esse salmo em mente quando disse: “Vocês devem dizer: ‘Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo’” (Tg 4.15).

Um pouco mais tarde, o Salmo 107 acrescenta mais ideias sobre isso.

[Deus] transforma o deserto em açudes e a terra ressecada, em fontes. Ali ele assenta os famintos, para fundarem uma cidade habitável, semearem lavouras, plantarem vinhas e colherem uma grande safra. Ele os abençoa, e eles se multiplicam; e não deixa que os seus rebanhos diminuam (Sl 107.35-38).

Deus cria as condições para que a vida prospere na terra. Ele pode transformar um deserto em pastagem (ou uma pastagem em deserto). A agricultura, incluindo a semeadura e o manejo do gado, depende do crescimento dado por Deus. Onde a agricultura prospera, surgem as cidades. Com o surgimento das cidades, todo tipo de trabalho aparece. A economia urbana fornece todos os tipos de bens e serviços a uma população crescente e diversificada. Em uma economia antiga, além de agricultores e pastores, uma comunidade precisaria de oleiros, metalúrgicos e escribas (para registrar acordos e transações comerciais, bem como leis e textos religiosos). Toda a economia de qualquer cidade, passada ou presente, depende da abundância agrícola, seja ela cultivada internamente ou por meio do comércio. Quando o agricultor do mundo pode cultivar mais do que suas necessidades para sua própria subsistência, comunidades complexas podem prosperar. E isso vem de Deus, que rega a terra seca (Sl 65.9, Gn 2.5).

Assim, o salmo 107 abrange a atividade econômica em terra e no mar, e afirma que Deus está acima de tudo. E Deus não é hostil ao nosso trabalho. O salmo fala de como ele salva e provê. Nosso sustento depende do governo beneficente de Deus sobre as forças naturais.

Virtudes para quem está nos negócios (Salmos 112)

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O salmo 112 declara as bênçãos de Deus sobre aquele que “conduz os seus negócios” e “empresta com generosidade” (para usar os termos do versículo 5), de acordo com os mandamentos de Deus. “Grande riqueza há em sua casa”, observa o salmo, e “não temerá más notícias” (Sl 112.3,7). As virtudes que trazem tais bênçãos incluem graça, misericórdia, retidão, generosidade e justiça (Sl 112.4-5). Retidão e justiça podem não nos surpreender. As pessoas querem comprar e vender de empresas que são retas e justas, de modo que se pode esperar que essas virtudes, em geral, tragam prosperidade.

Mas e quanto à misericórdia, compaixão e justiça (v. 4)? Misericórdia pode significar informar um cliente sobre uma solução de custo mais baixo, mesmo que isso traga menos lucro para nós mesmos ou para nossa empresa. Compaixão pode significar dar outra chance a um fornecedor depois que ele perde uma entrega. Justiça pode significar compartilhar especificações com outras pessoas do setor, para que possam criar produtos que operem em conjunto com os nossos — o que é bom para os clientes, mas pode até mesmo criar concorrência para nós mesmos. O salmo 112 diz que essas coisas levam a uma maior prosperidade, não a uma menor, certo? Aparentemente sim. “Reparte generosamente”, diz o salmo, e quem o faz é mais firme, mais seguro, mais estável e, em última análise, mais bem-sucedido do que aquele que não pratica tais virtudes (Sl 112.7-10). O salmo atribui isso ao Senhor (Sl 112.1,7), mas não diz se isso ocorre porque ele intervém em seu favor ou porque criou e manteve o mundo de tal forma que essas virtudes tendem a trazer prosperidade. Talvez ele faça as duas coisas.

Por outro lado, talvez o Senhor abençoe os justos, dando-lhes uma ideia diferente do que é prosperidade. Riquezas e bens estão incluídos (Sl 112.3, como acima), mas o quadro geral inclui muito mais do que riqueza. Terá descendentes prósperos (Sl 112.2), será lembrado (Sl 112.6) e honrado (Sl 112.9), terá relacionamentos estáveis ​​(Sl 112.6), paz sincera (Sl 112.7) e a capacidade de enfrentar o futuro sem medo (Sl 112.8) — tudo isso é igualmente importante na visão de Deus sobre a prosperidade. Será possível que, quando seguimos os mandamentos do Senhor nos negócios, não apenas nossa sorte mude, mas também nossos desejos? Se pudéssemos desejar para nós mesmos o que Deus deseja para nós, não teríamos a garantia de encontrar uma felicidade que duraria para sempre?

Participando da obra de Deus (Salmos 113)

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O salmo 113 nos informa: “Do nascente ao poente, seja louvado o nome do Senhor!” (Sl 113.3). O salmista está sugerindo que devemos ficar no templo (ou na igreja) o dia todo para louvar ao Senhor? Ou está sugerindo que, em tudo o que fizermos, incluindo nosso trabalho diário, o façamos em louvor ao Senhor? Dos versículos 7 a 9, vemos claramente que é a segunda opção. “Ele levanta do pó o necessitado e ergue do lixo o pobre, para fazê-los sentar-se com príncipes, com os príncipes do seu povo” (Sl 113.7-8). Embora o salmo não nos diga como Deus realiza isso, sabemos — assim como o salmista — que geralmente significa por meio do trabalho. A oportunidade de um trabalho bem remunerado tira os pobres da pobreza e, em geral, Deus cria essas oportunidades por meio do trabalho de seu povo — pessoas com negócios que criam oportunidades econômicas, pessoas no governo que garantem justiça, pessoas na educação que incutem as habilidades necessárias para bons empregos. Com sua ênfase em ajudar os pobres e necessitados, o Salmo 113 clama por uma vida inteira de louvor prático a Deus.

Embora o salmo pudesse ter nomeado milhares de tipos de trabalho para ilustrar seu ponto, ele seleciona apenas um: o trabalho de dar à luz e criar filhos “Dá um lar à estéril, e dela faz uma feliz mãe de filhos” (Sl 113.9). Talvez isso ocorra porque a falta de filhos no antigo Israel praticamente condenava uma mulher (e seu marido) à pobreza na velhice. Ou talvez seja por algum outro motivo. De qualquer maneira, isso nos lembra de dois assuntos importantes hoje. Mais obviamente, quando mães (e pais) concebem, alimentam, limpam, protegem, brincam, ensinam, educam, perdoam, treinam e amam as crianças, isso dá trabalho! No entanto, muitas mães sentem que ninguém — nem mesmo a igreja — reconhece que o que elas fazem é tão valioso quanto o trabalho que os outros fazem, porque os outros são pagos. Em segundo lugar, o alívio de Deus para adultos que não têm filhos e para crianças que não tem adultos responsáveis por elas geralmente ocorre por meio do trabalho de outras pessoas. Profissionais médicos podem restaurar a fertilidade. Profissionais de adoção e agentes de assistência social procuram reunir candidatos a pais e crianças que precisam de pais, acompanhando as famílias para fornecer treinamento e supervisão, conforme necessário. Todas as famílias dependem do apoio de uma ampla comunidade de outras pessoas, incluindo o povo de Deus. Para saber mais sobre o trabalho das famílias, consulte “O trabalho do casamento, da criação dos filhos e do cuidado dos pais (Salmos 127; 128; 139)”.

Produzindo verdadeiro valor no trabalho (Salmos 127 e 128)

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Como o salmo 107 fala de atividade econômica em larga escala, assim os salmos 127 e 128 falam do lar, a unidade básica de produção econômica até a época da Revolução Industrial. O salmo 127 começa com um lembrete de que toda boa obra está fundamentada em Deus.

Se não for o Senhor o construtor da casa, será inútil trabalhar na construção. Se não é o Senhor que vigia a cidade, será inútil a sentinela montar guarda. Será inútil levantar cedo e dormir tarde, trabalhando arduamente por alimento. O Senhor concede o sono àqueles a quem ele ama. (Sl 127.1-2)

Tanto a “casa” quanto a “cidade” referem-se à mesma coisa: o objetivo de fornecer bens e segurança para os moradores. Em última análise, toda atividade econômica visa permitir que as famílias prosperem. A passagem obviamente afirma que o trabalho diligente por si só não é suficiente (veja Provérbios 26.13-16, que fala sobre preguiça). Além do óbvio, há um significado mais profundo. O trabalho árduo pode produzir uma casa grande e bonita, mas não pode criar um lar feliz. Um empreendedor zeloso pode criar um negócio de sucesso, mas não pode, apenas com o trabalho, criar uma vida boa. Só Deus pode fazer tudo valer a pena.

Na maioria das economias de hoje, o trabalho que não seja a agricultura geralmente não é realizado nas famílias, mas em organizações maiores. Mas a mensagem do salmo 127 se aplica aos ambientes de trabalho institucionalizados de hoje, tanto quanto aos lares antigos. Para prosperar, todo ambiente de trabalho deve produzir algo de valor. Trabalhar horas não é suficiente — o trabalho precisa resultar em bens ou serviços de que os outros precisam.

Os crentes podem oferecer algo de especial significado a esse respeito. Em todos os ambientes de trabalho, há a tentação de produzir itens que possam render muito dinheiro, mas que não ofereçam nenhum valor duradouro. As empresas podem aumentar os lucros — no curto prazo — reduzindo a qualidade dos materiais. Os vendedores podem aproveitar a falta de familiaridade dos compradores para vender produtos e acessórios duvidosos. As instituições educacionais podem oferecer aulas que atraem alunos sem desenvolver capacidades duradouras. E assim por diante. Quanto mais entendermos as necessidades genuínas das pessoas que usam nossos bens e serviços, e quanto mais contribuirmos para o verdadeiro valor do que produzimos, mais poderemos ajudar nossas instituições de trabalho a resistir a essas tentações. Como o verdadeiro valor está, em última análise, fundamentado em Deus, podemos ter uma capacidade única de servir a esse papel. Mas isso deve ser feito com humildade e escuta constante. Não adiantará de nada anunciar em voz alta nossas opiniões imaturas, pois as pessoas ficarão cansadas de nos ouvir.

O trabalho do casamento, da criação dos filhos e do cuidado dos pais (Salmos 127; 128; 139)

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O trabalho presente no casamento, na criação filhos e no cuidado dos pais vem à tona novamente nos salmos 127, 128 e 139. (O trabalho de ter filhos é um elemento importante do Salmo 113; veja “Participando da obra de Deus (Salmos 113)”). “Sua mulher será como videira frutífera em sua casa; seus filhos serão como brotos de oliveira ao redor da sua mesa” (Sl 128.3). Maridos e esposas juntos se envolvem na produção do tipo mais fundamental — a reprodução! É desnecessário dizer que a esposa realiza mais trabalho nessa empreitada do que o marido. Na Bíblia, esse papel não é desprezado — é entendido como essencial para a sobrevivência e foi honrado no antigo Israel. Além da geração de filhos, as esposas normalmente administravam a casa, incluindo a produção doméstica e comercial (Pv 31.10-31).

A Bíblia honra aqueles que navegam pelo mar e aqueles que pastoreiam as ovelhas (ocupações tradicionalmente masculinas), bem como aqueles que administram a casa (uma ocupação tradicionalmente feminina). Hoje, as funções de trabalho são muito menos divididas de acordo com o sexo — exceto a administração da casa da família, que ainda é desempenhada principalmente por mulheres [1] — mas a honra concedida ao casamento e ao trabalho das famílias ainda se aplica.

Como toda forma de trabalho — e ter filhos é trabalho! — ter filhos também vem de Deus. “Tu [Deus] criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe” (Sl 139.13). Da mesma forma, como acontece com qualquer outra forma de trabalho, isso não significa que, quando a tragédia ocorre, é uma punição ou um abandono de Deus. Em vez disso, ter filhos é um ponto da graça comum de Deus para a humanidade em todo o mundo. No ventre, Deus nos cria, e ele nos cria para um propósito. Nosso direito de nascimento é fazer obras de valor para o próprio Deus.

Voltamos ao salmo 127 como elemento final deste tema, isto é, que o trabalho doméstico inclui cuidar daqueles cuja capacidade para o trabalho é diminuída por causa da idade. “Os filhos são herança do Senhor, uma recompensa que ele dá” (Sl 127.3). No mundo antigo, as pessoas não tinham planos de pensão institucionalizados, nem seguro de saúde. À medida que ficavam mais velhos, passavam a ser sustentadas por seus filhos. (O texto fala de “filhos” porque, em geral, as filhas se casavam e entravam na casa das famílias de seus maridos.) Na verdade, os filhos eram o plano de aposentadoria de um casal, e isso unia intimamente as gerações.

Pode parecer difícil colocar o valor da criação dos filhos em termos econômicos. Hoje, podemos nos sentir mais à vontade falando sobre as recompensas emocionais de criar filhos. Seja como for, esse versículo ensina que os adultos precisam de crianças tanto quanto as crianças precisam de adultos, e que as crianças são um presente de Deus, não um fardo. Também nos lembra de todo tipo de investimentos que nossos pais fizeram em nós — emocional, físico, intelectual, criativo, econômico e muito mais. À medida que crescemos e nossos pais passam a depender de nós, é certo que assumamos o trabalho de cuidar deles. Isso pode ser feito de uma variedade de maneiras. O ponto é simplesmente que o mandamento de Deus de honrar nossos pais (Êx 20.12) não é apenas uma questão de atitude, mas também de trabalho e cuidado econômico.

O uso correto do poder (Salmos 136)

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O poder é essencial para a maioria das obras e deve ser exercido corretamente. O salmo 136 expõe o uso adequado do poder, mostrando quatro exemplos de como Deus usa o poder.

O primeiro exemplo vem nos versículos 4-9. Ele mostra o uso do poder de Deus para criar o mundo, visto que ele “com habilidade fez os céus” e “estendeu a terra sobre as águas” (Sl 136.5-6). Isso nos leva de volta a Gênesis 1 — ao Deus da criação, que dá ao mundo tudo o que é preciso para florescer. Mas observe a ordem em que Deus trabalha, primeiro criando sistemas (terra e água, noite e dia, sol e lua) que foram necessários para a sobrevivência de todo o que foi criado posteriormente (plantas, animais terrestres, criaturas que nadam e voam). Deus não criou os animais até que houvesse terra seca e vegetação para sustentá-los. Quando está em nosso poder criar tarefas ou sistemas, o poder é corretamente usado quando criamos ambientes nos quais nós e aqueles ao nosso redor não apenas sobrevivemos, mas prosperamos. Para mais informações sobre a provisão de Deus na criação, veja “ Provisão (Gênesis 1.29-30; 2.8-14) ” em Gênesis 1—11 e o trabalho em www.teologiadotrabalho.org

O segundo exemplo está em Salmos 136.10-15, quando Deus libertar seu povo da escravidão no Egito. A terceira vem imediatamente depois, quando Deus derruba os reis cananeus que se opõem a Israel em sua jornada para estabelecer a terra prometida (Sl 136.16-22). Juntos, eles nos mostram que Deus usa o poder para libertar as pessoas da opressão e para se opor àqueles que impedem os outros do bem que Deus deseja para eles. Quando nosso trabalho libera outros para cumprirem seu destino no desígnio de Deus, estamos usando o poder da maneira correta. Quando nosso trabalho escraviza novamente os trabalhadores ou se opõe à obra de Deus neles e por meio deles, estamos abusando do poder.

O quarto exemplo vem no final do salmo. Deus “se lembrou de nós quando fomos humilhados ... e nos livrou dos nossos adversários ... [Ele] dá alimento a todos os seres vivos” (Sl 136.23-25). Deus amorosamente reconhece nossa fraqueza e supre nossas necessidades. Quando usamos o poder para fazer um trabalho que beneficie os outros, estamos usando o poder como Deus o usaria.

Finalmente, para o uso adequado do poder, cada versículo do salmo 136 nos lembra de dar graças a Deus, pois “o seu amor dura para sempre”.

A glória de Deus em toda a criação (Salmos 146—150)

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Os cinco salmos finais começam cada um com o grito “Aleluia” (que significa “Louvado seja o Senhor!”). Como nossa pesquisa dos salmos mostrou, o trabalho deve ser uma forma de louvor a Deus. Esses cinco salmos descrevem uma variedade de maneiras pelas quais nosso trabalho pode louvar ao Senhor. Em todas elas, vemos que nosso trabalho está fundamentado na obra do próprio Deus. Quando trabalhamos como Deus deseja, estamos imitando, estendendo e cumprindo a obra de Deus.

Salmo 146

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Deus executa justiça pelos oprimidos (Sl 146.7a). Nós fazemos o mesmo quando trabalhamos de acordo com os mandamentos de Deus, pela graça de Deus. Deus dá comida aos famintos (Sl 146.7b). Nós também. Deus liberta pessoas acorrentadas, assim como fazem os legisladores, advogados, juízes e júris. Deus restaura a visão aos cegos, assim como fazem os oftalmologistas e os oculistas. Deus levanta aqueles que não podem se levantar sozinhos, assim como fazem os fisioterapeutas, enfermeiros, fabricantes de elevadores e pais de crianças (Sl 146.8). O Senhor cuida de estranhos, assim como é feito por policiais e agentes de segurança, comissários de bordo, salva-vidas, inspetores de saúde e forças de paz. Ele cuida de órfãos e viúvas (Sl 146.9), assim como pais adotivos, cuidadores de idosos, advogados de família e assistentes sociais, planejadores financeiros e funcionários de internatos. Louvado seja o Senhor! (Sl 146.10).

Salmo 147

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Deus reúne os exilados (Sl 147.2), assim como as entidades de caridade, os professores nas prisões e os líderes comunitários. Ele cura os quebrantados de coração (Sl 147.3), assim como fazem os conselheiros de luto, casamenteiros, humoristas e cantores de blues. Ele conta as estrelas e lhes dá nomes (Sl 147.4), como fazem os astrônomos, navegadores e contadores de histórias. Ele é abundante em poder (Sl 147.5a), assim como presidentes, CEOs, almirantes, pais e prisioneiros políticos que se tornaram estadistas. Ele tem uma compreensão profunda (Sl 147.5b), assim como professores, poetas, pintores, maquinistas, operadores de sonar e pessoas cujo autismo lhes dá poderes extraordinários de concentração nos detalhes. Ele levanta os oprimidos, assim como ativistas de direitos civis e doadores, e quebra o poder dos ímpios, assim como promotores de justiça, denunciantes e todos aqueles que se afastam das fofocas e defendem colegas de trabalho que são tratados injustamente (Sl 147.6).

Deus prepara a terra para o tempo vindouro (Sl 147.8), assim como meteorologistas, pesquisadores do clima, arquitetos, construtores e controladores de tráfego aéreo. Ele alimenta os animais (Sl 147.9), como fazem fazendeiros e pastores, bem como meninos e meninas nas aldeias rurais. Ele fortalece os portões, protege as crianças e preserva a paz nas fronteiras (Sl 147.13-14a), assim como engenheiros, soldados, despachantes aduaneiros e diplomatas. Ele prepara os melhores alimentos (Sl 147.14b), assim como cozinheiros, chefes de cozinha, padeiros, vinicultores, cervejeiros, agricultores, donas de casa e pessoas com dupla jornada (principalmente as mulheres), blogueiros de receitas, mercearias, caminhoneiros e — do seu próprio jeito — trabalhadores de fast food, atendentes de lanchonetes e cozinheiros de comida congelada. Ele declara sua palavra — seus decretos e ordenanças (Sl 147.19). Louvado seja o Senhor! (Sl 147.20).

Salmo 148

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Ao contrário dos salmos 146, 147 e 149, os salmos 148 e 150 não retratam Deus em ação, mas pulam diretamente para nossa resposta de louvor pelo trabalho que ele já fez. O salmo 148 fala da criação de Deus, como se a própria existência da criação fosse um louvor a Deus. “Louvem o Senhor, vocês que estão na terra, serpentes marinhas e todas as profundezas, relâmpagos e granizo, neve e neblina, vendavais que cumprem o que ele determina, todas as montanhas e colinas, árvores frutíferas e todos os cedros, todos os animais selvagens e os rebanhos domésticos, todos os demais seres vivos e as aves” (Sl 148.7-10). Sua criação torna nosso trabalho frutífero, por isso é apropriado que ofereçamos todo o trabalho que fazemos como louvor a ele. “Moços e moças, velhos e crianças. Louvem todos o nome do Senhor” (Sl 148.12-13). Louvado seja o Senhor! (Sl 148.14).

Salmo 149

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O Senhor tem prazer em cânticos, danças e na música dos instrumentos (Sl 149.2-3), assim como se vê nos músicos, dançarinos, compositores, arranjadores, coreógrafos, compositores de filmes, arquivistas musicais, professores, trabalhadores de organizações artísticas e doadores, membros de corais, musicoterapeutas, bandas, corais e orquestras de estudantes, bandas de garagem, folcloristas, trabalhadores que cantam em seu trabalho, produtores e editores musicais, YouTubers, rappers, letristas, fabricantes de áudio, afinadores de piano, instrumentistas, acústicos, criadores de aplicativos de música e todos os que cantam no chuveiro. Talvez nenhuma forma de esforço humano seja mais universal, embora mais variada, do que fazer música, e tudo isso deriva do amor de Deus pela música.

O Senhor tem prazer em seu povo (Sl 149.4a), assim como todos os bons líderes, membros da família, profissionais de saúde mental, pastores, vendedores, guias turísticos, treinadores, organizadores de festas e todos os que servem aos outros. Se as situações oprimem pessoas ou se sistemas impossibilitam que as pessoas tenham prazer saudável nos outros, o Senhor vence os opressores e reforma os sistemas (Sl 149.4b-9a), assim como é feito por reformadores sociais e corporativos, jornalistas, mulheres e homens comuns que se recusam a aceitar o status quo, psicólogos organizacionais e profissionais de recursos humanos e — se as condições forem extremas e não houver outro caminho — exércitos, marinhas, forças aéreas e seus comandantes. Quando a justiça e o bom governo forem restaurados, a música poderá começar de novo (Sl 149.6). Louvado seja o Senhor! (Sl 149.9b).

Salmo 150

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O salmo final retorna à música como nossa resposta aos “feitos poderosos” de Deus, sobre as quais toda a nossa atividade e todo trabalho se baseiam. Louve a Deus com trombetas, liras, harpas, tamborins, cordas, flautas, címbalos — tanto sonoros quanto retumbantes — e dançando. Vindo como o clímax de cinco canções cheias de trabalho, e como o fim último de toda a coleção de salmos, temos a impressão de que a música é realmente um trabalho muito importante. Não a música em si, no entanto, mas porque nos permite louvar ao Senhor mais alto. Podemos entender isso literal e metaforicamente. Da perspectiva literal, podemos considerar a música, a dança e as outras artes com um pouco mais de consideração do que o habitual na comunidade cristã, que nem sempre é receptiva à música (exceto dentro de limites bem claros) e às artes (em geral). Ou, pelo menos, podemos manter nossa própria música e arte em uma estima um pouco maior. Se não conseguimos encontrar tempo para expressar nossa própria criatividade artística, é possível que estejamos perdendo o valor das canções que Deus coloca em nosso coração?

Metaforicamente, será que o salmo 150 está nos convidando a fazer nosso trabalho como se fosse um tipo de música? Todos nós provavelmente poderíamos ter mais harmonia em nossos relacionamentos, um ritmo mais constante de trabalho e descanso, uma atenção à beleza do trabalho que fazemos e das pessoas com quem trabalhamos. Se pudéssemos ver a beleza em nosso trabalho, será que isso nos ajudaria a superar os desafios do trabalho, como tentações éticas, tédio, relacionamentos ruins, frustração e, às vezes, baixa produtividade? Por exemplo, imagine que você está tão frustrado com seu chefe que se sente tentado a parar de fazer seu trabalho da melhor maneira. Ajudaria se você pudesse ver a beleza em seu trabalho além do relacionamento com seu chefe? Que tipo de beleza seu trabalho traz ao mundo? Que beleza Deus vê no que você faz? Isso é suficiente para sustentá-lo em tempos difíceis ou para levá-lo a fazer as mudanças necessárias em seu trabalho ou na maneira como o faz?

De qualquer forma, não importa como percebamos nosso trabalho, Deus deseja que nosso trabalho o louve. Os 150 salmos da Bíblia cobrem todos os aspectos da vida e da obra, desde os terrores mais sombrios até as esperanças mais brilhantes. Alguns falam de morte e desespero, outros de prosperidade e esperança. Mas a conclusão final do livro dos Salmos é o louvor. “Tudo o que tem vida louve o Senhor! Aleluia!” (Sl 150.6).