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Os Doze Profetas e o trabalho

Comentário Bíblico / Produzido por Projeto Teologia do Trabalho
Minor prophets bible commentary

Introdução aos Doze Profetas

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A seção da Bíblia conhecida como Profetas Menores abrange uma série de situações da vida de Israel, com seus próprios desafios. O tema unificador dessa seção é que, em Deus, não há separação entre o trabalho referente à adoração e à vida diária, entre bem-estar individual e bem comum. O povo de Israel mostra sua fidelidade ou infidelidade à aliança feita com Deus em variados níveis, e essa gradação é facilmente perceptível em sua maneira de adorar, ou na negligência em fazê-lo. A fidelidade do povo — ou a ausência dela — à aliança de Deus se reflete não apenas no âmbito espiritual, mas no social e no físico, incluindo a própria terra. O grau de fidelidade individual também é visível na ética do dia a dia e do trabalho, a qual, por sua vez, determina a produtividade e a consequente prosperidade ou pobreza do indivíduo. No curto prazo, os ímpios poderão prosperar, mas a disciplina de Deus e as consequências naturais do trabalho injusto por fim os conduzirão à pobreza e ao desespero. Em contrapartida, quando pessoas e sociedades trabalham em fiel harmonia com Deus, ele as abençoa com saúde e prosperidade nos âmbitos espiritual, ético e ambiental.

Na tradição cristã de língua portuguesa, esses doze últimos livros do Antigo Testamento são geralmente chamados de Profetas Menores. Na tradição hebraica, inserem-se em um único pergaminho denominado “O Livro dos Doze”. Trata-se de uma espécie de antologia caracterizada pela progressão de pensamento e pela coerência temática. O pano de fundo fundamental é a aliança de Deus com seu povo. A narrativa conta a história da violação dessa aliança por parte do povo, a resposta de Deus com a punição ou a disciplina de Israel e a lenta restauração da sociedade e da nação israelita promovida por Deus. [1]

Assim, cinco dos seis primeiros livros dos Doze — Oseias, Joel, Amós, Obadias e Miqueias — trazem uma reflexão sobre o efeito do pecado do povo na condução da aliança e nos eventos do mundo. Os três livros seguintes — Naum, Habacuque e Sofonias — focam na punição pelo pecado, no que concerne também à aliança e ao mundo. Os três últimos livros proféticos — Ageu, Zacarias e Malaquias — atêm-se à restauração de Israel, concernente mais uma vez à renovação da aliança e à restauração parcial da posição de Israel no mundo. Por fim, temos Jonas, que é um caso especial. Sua profecia não diz respeito a Israel, mas à cidade-estado não hebraica de Nínive. Tanto seu cenário quanto sua composição são notoriamente difíceis de datar de maneira fidedigna.

Contexto Histórico dos Doze Profetas

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Há muita discussão sobre o histórico e a datação dos profetas de Israel e de Judá. Veja Introdução aos profetas para uma discussão geral das principais questões e do contexto de seus escritos. Com relação aos Doze, vejamos um breve esboço. Em relação ao primeiro grupo, há um amplo consenso de que Oseias, Amós e Miqueias estivessem situados no século 8 a.C. Naquela época, o reino unificado de Israel, governado por Davi e, em seguida, por Salomão, ficou dividido por algum tempo em reino do norte, conhecido como Israel, e reino do sul, conhecido como Judá. Miqueias pertencia ao sul e falou para essa região; Amós também pertencia ao sul, mas falou para o norte; e Oseias falou para o norte, região a que pertencia.

No início do século 8, os reinos do norte e do sul desfrutavam de uma prosperidade e segurança de fronteiras sem precedentes desde a época de Salomão. Mas as nuvens estavam se formando para os que tinham olhos para ver, como nossos profetas. Internamente, a situação econômica e política tornava-se cada vez mais precária à medida que crescia a preocupação da classe dominante com as lutas dinásticas. Externamente, o ressurgimento gradual da Assíria como superpotência na região se tornaria uma crescente ameaça para ambos os reinos. De fato, o reino do norte foi efetivamente eliminado pelo exército assírio por volta de 721 a.C. e jamais ressurgiu como entidade política, embora traços de sua existência ainda se fizessem presentes na identidade samaritana (2Rs 17.1-18). Os profetas atribuem a culpa diretamente ao povo de Israel e, em menor grau, ao de Judá, por abandonarem a adoração a Javé em favor da idolatria e por violarem os requisitos éticos da Lei. Apesar dessas falhas, iludiram-se com a falsa sensação de segurança proporcionada pelo fato de serem o povo da aliança de Javé.

O sul, sob comando do rei Ezequias, de alguma forma sobreviveu à ameaça assíria (2Rs 19), mas enfrentou um desafio ainda maior com a ascensão do império babilônico (2Rs 21). Infelizmente, Judá não se arrependeu de sua idolatria e das violações éticas depois de escapar por pouco dos assírios. A derrota final veio pelas mãos dos babilônios, em 587 a.C., e culminou na destruição da infraestrutura social de Judá e na deportação de sua liderança para o exílio, no império babilônico (2Rs 24—25). Os profetas viram nessa derrota uma evidência do castigo de Deus ao povo. Entre os Doze Profetas, esse fato é mais nitidamente registrado nos livros de Naum, Habacuque e Sofonias. Eles espelham os escritos proféticos de Jeremias e Ezequiel, que também datam desse período. Livros bíblicos específicos registram a carreira profética deles (ver Jeremias e Lamentações e trabalho e Ezequiel e trabalho), e não os discutiremos aqui.

Ciro, o grande rei persa, derrotou a Babilônia e assumiu sua hegemonia. De acordo com a política persa, o império permitiu que o povo judeu retornasse a sua terra e, talvez mais importante, restabelecesse seu templo e outras instituições chave (Ed 1). Aparentemente, tudo isso ocorreu por vontade do império persa. [1] Os profetas Ageu, Zacarias e Malaquias desenvolveram seu trabalho durante essa fase da história de Israel.

Em resumo, o Livro dos Doze Profetas abrange uma ampla gama de circunstâncias do contexto relativo à vida do povo de Deus. Consequentemente, reflete vários paradigmas distintos dentro dos quais a fé no trabalho precisa ser expressa.

Fé e trabalho antes do exílio — Oseias, Amós, Obadias, Joel, Miqueias

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Oseias, Amós, Obadias, Joel e Miqueias exerceram sua atividade no século 8, quando o estado se encontrava bem desenvolvido, mas a economia em declínio. As camadas superiores cresceram em poder e riqueza, gerando uma classe cada vez mais desfavorecida. Existem algumas evidências de uma tendência ao cultivo comercial como forma de atender à crescente demanda urbana por alimentos. Isso provocou o efeito desestabilizador de reduzir a disseminação do risco inerente a uma agricultura de subsistência, suplantada. [1] As comunidades agrícolas tornaram-se vulneráveis ​​às variações anuais na produção e, por conseguinte, as cidades ficaram sujeitas a variações imprevisíveis no suprimento de alimentos (Am 4.6-9). Quando os profetas desse período começam a falar, os dias de glória dos suntuosos projetos de construção e da expansão territorial já haviam passado. Tais circunstâncias produzem um terreno fértil para a corrupção por parte daqueles desesperados por manter o poder e a riqueza, cada vez menores, além de abrir uma crescente lacuna entre ricos e pobres. Como resultado, os profetas de Deus desse período têm muito a dizer ao mundo do trabalho.

Deus exige mudanças (Oseias 1.1-9; Miqueias 2.1-5)

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Deus atribui ao povo como um todo a culpa pela corrupção de Israel. Eles haviam abandonado a aliança de Deus, o que não apenas rompe sua conexão com Deus como também as justas estruturas sociais da lei de Deus, levando diretamente à corrupção e ao declínio econômico. “Prostituição” é o termo que os profetas costumavam usar para descrever o rompimento da aliança por parte de Israel (por exemplo, Jr 3.2; Ez 23.7). Para dramatizar a situação, Deus toma a metáfora literalmente e ordena ao profeta Oseias que “tome uma mulher adúltera e filhos da infidelidade, porque a nação é culpada do mais vergonhoso adultério por afastar-se do Senhor” (Os 1.2). Oseias obedece à ordem de Deus, casa-se com uma mulher chamada Gômer, que aparentemente se encaixa no requisito, e com ela tem três filhos (Os 1.3). Resta-nos imaginar como deve ter sido construir um lar e criar filhos com uma “mulher adúltera”.

Embora os profetas usem imagens de prostituição e adultério, Deus está acusando Israel de corrupção econômica e social, não de imoralidade sexual.

Ai daqueles que planejam maldade, dos que tramam o mal em suas camas! Quando alvorece, eles o executam, porque isso eles podem fazer. Cobiçam terrenos e se apoderam deles; cobiçam casas e as tomam. Fazem violência ao homem e à sua família; a ele e aos seus herdeiros (Mq 2.1-2).

Isso faz da situação familiar de Oseias um exemplo dramático para aqueles que hoje trabalham em ambientes corruptos ou imperfeitos. Deus colocou Oseias deliberadamente em uma situação familiar difícil e corrupta. Será que hoje Deus coloca pessoas deliberadamente em locais de trabalho corruptos e difíceis? Embora possamos buscar um emprego confortável em um empregador de boa reputação, desenvolvendo uma atividade respeitável, talvez fôssemos capazes de realizar muito mais pelo reino de Deus trabalhando em lugares moralmente comprometidos. Se você abomina a corrupção, poderia combatê-la melhor trabalhando como advogado em uma empresa de prestígio ou como inspetor de obras em uma cidade dominada por corruptos? Não há respostas fáceis, mas o chamado de Deus a Oseias sugere que fazer diferença no mundo é mais importante para Deus que mantermos as mãos limpas. Como disse Dietrich Bonhoeffer em meio ao domínio nazista na Alemanha: “A principal questão para um homem responsável não é como livrar-se heroicamente do caso, mas como a próxima geração deve viver”. [1]

Deus viabiliza a mudança (Oseias 14.1-9; Amós 9.11-15; Miqueias 4.1-5; Obadias 1.21)

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O mesmo Deus que exige mudanças também promete viabilizá-la. “Foi determinada uma colheita para quando eu trouxer de volta o meu povo” (Os 6.11—7.1). Os Doze Profetas carregam o otimismo fundamental de que Deus está ativo no mundo a fim de mudá-lo para melhor. Apesar do aparente triunfo dos ímpios, Deus está no comando e “o reino será do Senhor” (Ob 1.21). Apesar da calamidade que as próprias pessoas trazem sobre si, Deus trabalha para restaurar a bondade na vida e no trabalho, como pretendia desde o início. “Ele é misericordioso e compassivo, muito paciente e cheio de amor” (Jl 2.13). Os oráculos finais de Joel, Oseias e Amós (Os 14; Am 9.11-15) ilustram isso em termos explicitamente econômicos.

As eiras ficarão cheias de trigo; os tonéis transbordarão de vinho novo e de azeite. [...] Vocês comerão até ficarem satisfeitos, e louvarão o nome do Senhor, o seu Deus, que fez maravilhas em favor de vocês; nunca mais o meu povo será humilhado. (Jl 2.24,26)
Os que habitavam à sua sombra voltarão. Reviverão como o trigo. Florescerão como a videira, e a fama de Israel será como a do vinho do Líbano. (Os 14.7)
Trarei de volta Israel, o meu povo exilado, eles reconstruirão as cidades em ruínas e nelas viverão. Plantarão vinhas e beberão do seu vinho; cultivarão pomares e comerão do seu fruto. (Am 9.14)

A palavra de Deus para seu povo em tempos de dificuldades econômicas e sociais expressa sua intenção de restaurar a paz, a justiça e a prosperidade caso o povo viva de acordo com os preceitos de sua aliança. O meio que ele usará é o trabalho de seu povo.

Responsabilidade individual e social pelo trabalho injusto (Miqueias 1.1-7; 3.1-2; 5.10-15)

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Apesar das intenções de Deus, o trabalho está sujeito ao pecado humano. O caso mais flagrante é o trabalho intrinsicamente pecaminoso. Miqueias menciona a prostituição — talvez, no caso, a prostituição cultual — e promete que os ganhos advindos dela serão queimados (Mq 1.7). Uma aplicação direta disso seria descartar a prostituição como ocupação legítima, mesmo que ela possa ser uma escolha compreensível para aqueles que não têm outra maneira de sustentar a si ou sua família. Há outros trabalhos que também levantam a questão sobre se devem ou não ser realizados. Sem dúvida, todos podemos pensar em vários exemplos, e os cristãos fariam bem em buscar um trabalho que beneficiasse o outro e a sociedade como um todo.

Mas Miqueias está falando a Israel como um todo, não só a indivíduos. Ele está criticando uma sociedade cujas condições sociais, econômicas e religiosas viabilizam a prostituição. A questão aqui não está em se “é aceitável ganhar a vida como prostituta”, mas “que tipo de mudança deve ocorrer na sociedade a fim de eliminar a necessidade de alguém realizar um trabalho degradante ou prejudicial”. Miqueias pede explicações não tanto àqueles que se sentem forçados a fazer um trabalho sórdido, mas aos líderes que falham em realizar mudanças na sociedade. Suas palavras são contundentes. “Ouçam, vocês que são chefes de Jacó, governantes da nação de Israel. Vocês deveriam conhecer a justiça! Mas odeiam o bem e amam o mal; arrancam a pele do meu povo e a carne dos seus ossos” (Mq 3.1-2).

Nossa sociedade é diferente daquela de Miqueias, e os remédios específicos que Deus promete ao antigo Israel não são necessariamente o que Deus pretende hoje. As palavras proféticas de Miqueias refletem a conexão entre a prostituição ritual e os cultos idólatras de sua época. Deus promete acabar com os abusos sociais centrados nos santuários idólatras. “Destruirei as suas imagens esculpidas e as suas colunas sagradas; vocês não se curvarão mais diante da obra de suas mãos. Desarraigarei do meio de vocês os seus postes sagrados e derrubarei os seus ídolos” (Mq 5.13-14). Hoje, precisamos da sabedoria de Deus para encontrar soluções eficazes para as questões sociais que levam ao trabalho pecaminoso e opressivo. Ao mesmo tempo, tal como os profetas de Israel, precisamos chamar as pessoas a se arrependerem de seu envolvimento voluntário em trabalhos pecaminosos. “Busquem o bem, não o mal, para que tenham vida. Então o Senhor, o Deus dos Exércitos, estará com vocês, conforme vocês afirmam” (Am 5.14).

Trabalhar injustamente (Oseias 4.1-10; Joel 2.28-29)

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Quando os profetas falam de prostituição, raramente estão preocupados apenas com esse tipo específico de trabalho. Em geral, também a usam como uma metáfora para a injustiça, que por definição significa infidelidade à aliança de Deus (Os 4.7-10). Em um lembrete genérico de que o salário pode ser ganho injustamente, Amós acusa os comerciantes que usam produtos inferiores, peso adulterado e outras formas de engano para obter lucro às custas de consumidores vulneráveis. Eles dizem a si mesmos: “Quando acabará a lua nova para que vendamos o cereal? E, quando terminará o sábado, para que comercializemos o trigo, diminuindo a medida, aumentando o preço, enganando com balanças desonestas e comprando o pobre com prata e o necessitado por um par de sandálias, vendendo até palha com o trigo?” (Am 8.5-6).

Muitas formas legítimas de ganhar a vida podem se tornar injustas pela maneira como são realizadas. Um fotógrafo deve tirar fotos de qualquer coisa que um cliente peça, sem levar em conta seu efeito sobre o objeto e os espectadores? Um cirurgião deve realizar qualquer tipo de cirurgia eletiva pela qual um paciente esteja disposto a pagar? Um agente financeiro imobiliário é responsável por certificar-se de que um mutuário tenha capacidade de honrar o empréstimo sem maiores dificuldades? Se nosso trabalho é uma forma de serviço a Deus, não podemos ignorar essas questões. No entanto, precisamos ter cuidado para não presumir uma hierarquia de atividades. Os profetas não estão alegando que alguns tipos de trabalho são mais piedosos que outros, mas que todo tipo de trabalho deve ser feito de modo a contribuir para a obra de Deus no mundo. “Até sobre os servos e as servas derramarei do meu Espírito naqueles dias” (Jl 2.29).

A justiça de Deus inclui justiça econômica e laboral (Amós 8.1-6, Miqueias 6.1-16)

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A justiça no trabalho não é apenas uma questão individual. As pessoas têm a responsabilidade de garantir que todos na sociedade tenham acesso aos recursos necessários para ganhar a vida. Amós critica a injustiça de Israel nesse quesito, mais intensamente ao aludir à lei da respiga. Respiga é o processo de colher os grãos que caem e permanecem no campo após a passagem das colheitadeiras. De acordo com a aliança de Deus com Israel, os agricultores não tinham permissão de respigar os próprios campos, em vez disso deveriam permitir que pessoas pobres (literalmente “o órfão e a viúva”) recolhessem os grãos caídos como um meio de sustento (Dt 24.19). Essa prática gerou uma forma rudimentar de bem-estar social, com vistas a gerar uma oportunidade de trabalho para os pobres (ao respigar os campos), em vez de mendigarem, roubarem ou passarem fome. A respiga é uma maneira de participar da dignidade do trabalho, mesmo para aqueles que não podem fazer parte do mercado de trabalho devido à falta de recursos, ao posicionamento socioeconômico, a discriminação, deficiência ou outros fatores. Deus não apenas quer que as necessidades de todos sejam atendidas, como também deseja oferecer a todos a dignidade de trabalhar para atender às próprias necessidades e às dos outros.

Amós reclama que essa disposição está sendo violada. Os agricultores não estão disponibilizando os grãos caídos em seus campos a fim de que os pobres os recolham (Mq 7.1-2). Em vez disso, eles se oferecem para vender palha — os resíduos deixados após a debulha — aos pobres por um preço absurdo. “Vocês que pisam os pobres e arruínam os necessitados da terra”, Amós os acusa, “vendendo até palha com o trigo” (Am 8.4,6). Amós os acusa pela espera ansiosa pelo fim do sábado para que possam continuar vendendo esse alimento barato e adulterado àqueles que não têm outra escolha (Am 8.5). Mais que isso, estão enganando até mesmo os que podem comprar grãos puros, como fica evidente no uso de balanças manipuladas no mercado. “Para que comercializemos o trigo, diminuindo a medida”, gabam-se eles. Miqueias proclama o juízo de Deus contra o comércio injusto. “Poderia alguém ser puro com balanças desonestas e pesos falsos?”, pergunta o Senhor (Mq 6.11). Isso nos diz claramente que a justiça não é apenas uma questão de direito penal e expressão política, mas também de oportunidade econômica. A oportunidade de trabalhar para atender às necessidades individuais e familiares é essencial para o papel do indivíduo que faz parte da aliança. A justiça econômica é um componente essencial da famosa e sonora proclamação de Miqueias feita apenas três versículos antes: “Ele mostrou a você, ó homem, o que é bom e o que o Senhor exige: pratique a justiça, ame a fidelidade e ande humildemente com o seu Deus” (Mq 6.8). Deus exige de seu povo — como uma questão diária de sua caminhada com ele — que ame a bondade e seja justo individual e coletivamente, em todos os aspectos do trabalho e da vida financeira.

Trabalho e adoração (Miqueias 6.6-8; Amós 5.21-24; Oseias 4.1-10)

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Os profetas entendem que a justiça não é apenas uma questão laica. O apelo de Miqueias por justiça em Miqueias 6.8 decorre da observação de que a justiça é melhor que sacrifícios religiosos extravagantes (Mq 6.6-7). Oseias e Amós expandem esse ponto. Amós se opõe à desconexão entre a observância religiosa e a ação ética.

Eu odeio e desprezo as suas festas religiosas; não suporto as suas assembleias solenes. Mesmo que vocês me tragam holocaustos e ofertas de cereal, isso não me agradará. Mesmo que me tragam as melhores ofertas de comunhão, não darei a menor atenção a elas. Afastem de mim o som das suas canções e a música das suas liras. Em vez disso, corra a retidão como um rio, a justiça como um ribeiro perene! (Am 5.21-24)

Oseias aprofunda ainda mais a relação entre estar espiritualmente fundamentado e fazer um bom trabalho. As boas obras emergem diretamente da fidelidade à aliança de Deus, enquanto, em contrapartida, as más obras nos afastam da presença de Deus.

Israelitas, ouçam a palavra do Senhor, porque o Senhor tem uma acusação contra vocês que vivem nesta terra: “A fidelidade e o amor desapareceram desta terra, como também o conhecimento de Deus. Só se veem maldição, mentira e assassinatos, roubo e mais roubo, adultério e mais adultério; ultrapassam todos os limites! E o derramamento de sangue é constante. Por isso a terra pranteia, e todos os seus habitantes desfalecem; os animais do campo, as aves do céu e os peixes do mar estão morrendo. [...] Meu povo foi destruído por falta de conhecimento. Uma vez que vocês rejeitaram o conhecimento, eu também os rejeito como meus sacerdotes; uma vez que vocês ignoraram a lei do seu Deus, eu também ignorarei seus filhos”. (Os 4.1-3,6)

Esse é um lembrete de que o mundo do trabalho não existe em um vácuo, separado do resto da vida. Se não fundamentarmos valores e prioridades na aliança de Deus, a vida e o trabalho serão ética e espiritualmente incoerentes. Se não agradarmos a Deus no trabalho, não poderemos agradá-lo na adoração.

Apatia devido à riqueza (Amós 3.9-15; 6.1-7)

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Os profetas criticam aqueles cuja riqueza os leva a abandonar o trabalho que conduz ao bem comum e a abandonar qualquer senso de responsabilidade pelo próximo. Amós relaciona riqueza indolente com opressão ao acusar os ricos ociosos de transgressão, violência e roubo (Am 3.10). Deus dará um fim rápido à riqueza dessas pessoas. Deus derrubará “a casa de inverno junto com a casa de verão; as casas enfeitadas de marfim serão destruídas” (Am 3.15). Amós lança uma explosão contundente contra os luxos dos “que vivem tranquilos em Sião” (Am 6.1). Eles são os primeiros em devassidão, ele observa, enquanto “se espreguiçam em seus sofás” (Am 6.4) e “improvisam em instrumentos musicais” (Am 6.5). Quando Deus punir Israel, eles “estarão entre os primeiros a ir para o exílio” (Am 6.7).

Surpreendentemente, queixas semelhantes podem ser ouvidas hoje contra aqueles que possuem riqueza mas não a empregam para nenhum bom propósito. Isso se aplica a indivíduos e a corporações, governos e outras instituições que usam sua riqueza para explorar as vulnerabilidades alheias, em vez de criar algo útil proporcionalmente a sua riqueza. Muitos cristãos — talvez a maioria no Ocidente — têm alguma capacidade de mudar essas coisas, pelo menos em seu ambiente de trabalho. As palavras dos profetas servem como um desafio e um incentivo contínuos para que nos preocupemos profundamente em como o trabalho e a riqueza servem — ou deixam de servir — às pessoas ao nosso redor.

Fé e trabalho durante o exílio — Naum, Habacuque, Sofonias

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Naum, Habacuque e Sofonias estiveram ativos durante o período em que o reino do sul começou a entrar em rápido declínio. A incoerência interna e a pressão externa do florescente império babilônico acabaram por tornar Judá um estado vassalo da Babilônia. Pouco depois, uma rebelião imprudente provocou a ira dos babilônios, em 587 a.C., levando ao colapso do estado de Judá e à deportação das elites para o centro do império babilônico (2Rs 24—25). No exílio, o povo de Israel teve que descobrir como permanecer fiel mesmo separado de suas principais instituições religiosas, do templo, do sacerdócio e até da terra. Se, como vimos, os seis primeiros livros tratam do efeito do pecado do povo, estes três — Naum, Habacuque e Sofonias — tratam do consequente castigo durante esse período.

A mão punitiva de Deus em ação (Naum 1.1-12; Habacuque 3.1-19; Sofonias 1.1-13)

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A principal contribuição de Naum é deixar claro que o desastre político e econômico é a punição ou a disciplina de Deus sobre Israel. “Eu a [tenho] afligido”, declara Deus (Na 1.12). Habacuque e Sofonias afirmam que uma parte essencial do castigo de Deus é a diminuição da capacidade do povo de ter uma vida adequada.

Mesmo não florescendo a figueira, e não havendo uvas nas videiras, mesmo falhando a safra de azeitonas, não havendo produção de alimento nas lavouras, nem ovelhas no curral nem bois nos estábulos [...]. (Hc 3.17)
Todos os seus comerciantes serão completamente destruídos, todos os que negociam com prata serão arruinados. (Sf 1.11)

Isso é visto não apenas nas questões econômicas, mas também nas ambientais (veja adiante Ageu: trabalho, adoração e meio ambiente ).

Os desastres políticos, econômicos e naturais contemporâneos são punições de Deus? Não faltam pessoas dispostas a declarar que desastres específicos são sinais da ira de Deus. O terremoto e o tsunami de 2011 no Japão foram atribuídos à punição divina, tanto pelo governador de Tóquio [1] quanto pelo apresentador de um noticiário da tevê. Contudo, a menos que nos tenhamos juntado ao grupo dos Doze ou ao de outros profetas de Israel, devemos relutar muito em apontar a ira de Deus em eventos no mundo. Será que o próprio Deus revelou a esses comentaristas as razões do tsunami ou eles tiraram as próprias conclusões? Teria ele revelado sua intenção a um número substancial de pessoas, com bastante antecedência, ao longo de muitos anos, como fez com os profetas de Israel, ou teria isso chegado a uma ou duas pessoas no dia seguinte? Os anunciadores modernos do castigo de Deus foram forjados como profetas ao longo de anos de sofrimento junto aos aflitos, como o foram Jeremias, os Doze e os outros profetas do antigo Israel?

Trabalho idólatra (Habacuque 2.1-20; Sofonias 1.14-18)

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A punição é resultado das ações do próprio povo. O povo tem trabalhado sem fé, transformando em ídolos bons materiais de pedra, madeira e metal. O trabalho que cria ídolos não tem valor, não importa quão caros sejam esses materiais ou quão bem trabalhado seja o produto final.

De que vale uma imagem feita por um escultor? Ou um ídolo de metal que ensina mentiras? Pois aquele que o faz confia em sua própria criação, fazendo ídolos incapazes de falar. (Hc 2.18)
Como Sofonias coloca, “nem a sua prata nem o seu ouro poderão livrá-los” (Sf 1.18).

Fidelidade não quer dizer um simples proferir louvores a Deus enquanto trabalhamos. É colocar as prioridades de Deus em primeiro lugar no trabalho. Habacuque lembra que “o Senhor, porém, está em seu santo templo; diante dele fique em silêncio toda a terra” (Hc 2.20). Esse silêncio não é apenas uma observação religiosa, mas um silenciar de nossas ambições, nossos medos e nossas motivações imperfeitas para que as prioridades da aliança de Deus possam se tornar nossas prioridades. Considere o que espera aqueles que fraudam os outros no setor bancário e financeiro.

“Ai daquele que amontoa bens roubados e enriquece mediante extorsão! Até quando isto continuará assim?” Não se levantarão de repente os seus credores? Não se despertarão os que o fazem tremer? Agora você se tornará vítima deles. (Hc 2.6-7)

Aqueles que acumulam ganhos ilícitos por meio da aquisição de imóveis — um fenômeno que parece persistir ao longo de todas as épocas — estão igualmente montando armadilhas para si mesmos.

Ai daquele que obtém lucros injustos para a sua casa, para pôr seu ninho no alto e escapar das garras do mal! Você tramou a ruína de muitos povos, envergonhando a sua própria casa e pecando contra a sua própria vida. Pois as pedras clamarão da parede, e as vigas responderão do madeiramento contra você. (Hc 2.9-11)

Aqueles que exploram a vulnerabilidade alheia também trazem julgamento sobre si mesmos.

Ai daquele que dá bebida ao seu próximo, misturando-a com o seu furor, até que ele fique bêbado, para lhe contemplar a nudez. Beba bastante vergonha, em vez de glória! Sim! Beba, você também, e exponha-se! A taça da mão direita do Senhor é dada a você; muita vergonha cobrirá a sua glória. (Hc 2.15-16)

Em última análise, o trabalho que oprime ou tira vantagem dos outros provoca a própria queda.

Talvez hoje não estejamos literalmente criando ídolos a partir de materiais preciosos, diante dos quais nos curvamos, mas o trabalho também pode ser idólatra se imaginarmos que somos capazes de produzir a própria salvação. Pois a essência da idolatria é que “aquele que o faz [o ídolo] confia em sua própria criação” (Hc 2.18), em vez de confiar no Deus por cuja direção e poder fomos criados para trabalhar. Se temos ambição por poder e influência porque pensamos que sem nossa sabedoria, habilidade e liderança o grupo de trabalho, a empresa, a organização ou a nação estarão condenados, então nossa ambição é uma forma de idolatria. Em contrapartida, se nossa ambição por poder e influência se traduz em uma maneira de atrair pessoas para uma rede de serviço em que todos façam uso dos dons de Deus em benefício do mundo, então nossa ambição é uma forma de fidelidade. Se nossa resposta ao sucesso é a autocongratulação, estamos praticando idolatria. Se nossa resposta é gratidão, então estamos adorando a Deus. Se nossa reação ao fracasso é desespero, estamos sentindo o vazio de um ídolo quebrado, mas se nossa reação é perseverança, então estamos experimentando o poder salvador de Deus.

Fidelidade em meio à labuta (Habacuque 2.1; Sofonias 2.1-4)

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Há outra dinâmica do trabalho no exílio. Apesar da ênfase de Naum, Habacuque e Sofonias sobre o castigo, durante esse período as pessoas também começam a reaprender a trabalhar fielmente a Deus. Isso é explorado em detalhes em artigos do Projeto Teologia do Trabalho, como Jeremias e Lamentações e trabalho e Daniel e trabalho, mas também é sugerido aqui no Livro dos Doze. O ponto principal é que, mesmo nas circunstâncias deploráveis ​​do exílio, ainda é possível ser fiel. Enquanto observava a carnificina ao seu redor, sem dúvida desejando estar em outro lugar, Habacuque decidiu ficar em seu posto e ali ouvir a Palavra de Deus (Hc 2.1). Entretanto, é possível fazer mais do que simplesmente permanecer em seu posto, por mais valioso que seja. Também podemos encontrar uma maneira de ser justos e humildes.

Busquem o Senhor, todos vocês, os humildes da terra, vocês que fazem o que ele ordena. Busquem a justiça, busquem a humildade; talvez vocês tenham abrigo no dia da ira do Senhor. (Sf 2.3)

Não existem locais de trabalho ideais. Alguns são profundamente desafiadores para o povo de Deus, comprometedores de muitas maneiras, enquanto outros são falhos em aspectos mais corriqueiros. Porém, mesmo em locais de trabalho difíceis, ainda podemos ser testemunhas fiéis dos propósitos de Deus, tanto na qualidade de nossa presença quanto na de nosso trabalho. Habacuque nos lembra que, por mais infrutífero que nosso trabalho pareça, Deus está ali conosco, concedendo-nos uma alegria que não pode ser totalmente suplantada nem mesmo pelas piores condições de trabalho.

Mesmo não florescendo a figueira e não havendo uvas nas videiras, mesmo falhando a safra de azeitonas e não havendo produção de alimento nas lavouras, nem ovelhas no curral, nem bois nos estábulos, ainda assim eu exultarei no Senhor e me alegrarei no Deus da minha salvação. O Senhor, o Soberano, é a minha força; ele faz os meus pés como os do cervo; faz-me andar em lugares altos. (Hc 3.17-19)

Ou, como diz a paráfrase de Terry Barringer,

Embora o contrato termine, E não haja trabalho a ser feito;
Embora não haja demanda por minhas habilidades, E ninguém publique meu trabalho. Ainda que minhas economias acabem e a aposentadoria não seja suficiente para o sustento; Ainda assim eu me alegrarei no Senhor e me regozijarei em Deus, meu Salvador. [1]

Como o versículo 19 sugere, o bom trabalho é possível mesmo em meio a circunstâncias difíceis, pois “o Senhor, o Soberano, é a minha força”. Fidelidade não é apenas uma questão de suportar dificuldades, mas de transformar a pior situação, de todas as formas possíveis, em algo melhor.

Trabalho fiel após o exílio — Ageu, Zacarias, Malaquias

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Findo o exílio, a sociedade civil e a vida religiosa judaica foram restauradas na terra da promessa de Deus. Jerusalém e seu templo foram reconstruídos, bem como a infraestrutura econômica, social e religiosa da sociedade judaica. O Livro dos Doze agora se volta para os desafios do trabalho que se seguiu ao pecado e ao castigo.

A necessidade de capital social (Ageu 1.1—2.19)

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Um dos desafios que enfrentamos no trabalho é a tentação de colocar a nós mesmos e a família à frente da sociedade. O profeta Ageu pinta um quadro nítido desse desafio. Ele confronta pessoas que trabalham arduamente para reconstruir a própria casa enquanto negligenciam o investimento de recursos para a reconstrução do templo, o centro da sociedade judaica. “Acaso é tempo de vocês morarem em casas de fino acabamento, enquanto a minha casa continua destruída?” (Ag 1.4). Ele diz que a falha em investir em capital social está, na verdade, diminuindo sua produtividade individual.

Vocês têm plantado muito, e colhido pouco. Vocês comem, mas não se fartam. Bebem, mas não se satisfazem. Vestem-se, mas não se aquecem. Aquele que recebe salário, recebe-o para colocá-lo numa bolsa furada. (Ag 1.6)
Assim o Senhor encorajou o governador de Judá, Zorobabel, filho de Sealtiel, o sumo sacerdote Josué, filho de Jeozadaque, e todo o restante do povo, e eles começaram a trabalhar no templo do Senhor dos Exércitos, o seu Deus, no vigésimo quarto dia do sexto mês do segundo ano do reinado de Dario. (Ag 1.14-15).

Investir em capital social nos lembra de que não existe essa ideia de “self-made man”. Embora o esforço individual possa gerar grande riqueza, cada um de nós depende de recursos e infraestrutura social oriundos, em última análise, de Deus. “‘Encherei este templo de glória’, diz o Senhor dos Exércitos. ‘Tanto a prata quanto o ouro me pertencem’, declara o Senhor dos Exércitos” (Ag 2.7-8). A prosperidade não é uma questão apenas — ou nem mesmo principalmente — de esforço pessoal, mas do esforço de uma comunidade fundamentada na aliança de Deus. “‘E neste lugar estabelecerei a paz’, declara o Senhor dos Exércitos” (Ag 2.9).

Que tolice pensar que devemos prover o próprio sustento antes de reservar tempo para Deus e para seu povo. A verdade é que não podemos nos sustentar senão pela graça da generosidade de Deus e pelo trabalho mútuo de sua comunidade. Trata-se do mesmo conceito por trás do dízimo. Não é um sacrifício de 10% da colheita, mas uma bênção de 100% da incrível colheita da criação de Deus.

Isso nos lembra, ainda hoje, da importância de investir recursos nos aspectos intangíveis da vida. Moradia, comida, automóveis e outras necessidades físicas são importantes, mas Deus nos provê com recursos suficientes para que também invistamos em arte, música, educação, natureza, recreação e em inúmeras coisas que alimentam a alma. Aqueles que trabalham nas artes, nas ciências humanas ou na indústria de lazer, ou investem recursos na criação de parques, playgrounds e teatros estão contribuindo para o mundo sonhado por Deus tanto quanto o empresário ou o carpinteiro.

Isso também sugere que investir em igrejas e na vida eclesiástica é crucial para fortalecer o trabalho dos cristãos. Como vimos, a adoração em si está intrinsecamente ligada à realização de um bom trabalho, e talvez devêssemos nos engajar nela como um processo de desenvolvimento de um bom trabalho, e não apenas como devoção pessoal ou prazer. Além disso, a comunidade cristã pode ser uma força poderosa para o bem-estar econômico, cívico e social se aprender a usar o poder espiritual e ético da palavra de Deus para influenciar questões de trabalho nos setores econômico, social, governamental, acadêmico, médico, científico e outros.

Trabalho, adoração e meio ambiente (Ageu 1.1—2.19; Zacarias 7.8-14)

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Ageu relaciona o bem-estar econômico e social das pessoas com o meio ambiente. Por meio de um jogo de palavras mais óbvio em hebraico do que na tradução para o português, Ageu relaciona a desolação do templo (“destruído”, do hebraico hareb, Ag 1.9) com a desolação da terra e suas colheitas (“seca”, do hebraico horeb) e a consequente decadência do bem-estar geral de “homens” e “gado” e também do “trabalho das mãos” humanas (Ag 1.11). A chave desse elo está na condição do templo, que se torna uma espécie de código para a fidelidade ou a infidelidade religiosa do povo. Portanto, há uma conexão tripla entre adoração, saúde socioeconômica e meio ambiente e adoração. Quando o ambiente físico do qual dependemos está doente, a sociedade humana também está, e um dos indícios de uma sociedade doente é sua contribuição para o adoecimento do meio ambiente.

Há também uma relação entre como uma comunidade adora e cuida da terra e a condição econômica e política daqueles que a ocupam. Os profetas nos chamam a reaprender a lição segundo a qual o ponto de partida para a paz entre a terra e seus habitantes está no respeito pelo criador da terra que ocupamos. Para Ageu, a seca da terra e a ruína do templo são inseparáveis. A adoração verdadeira e sincera traz paz e bênçãos da terra. “Atentem para o dia em que os fundamentos do templo do Senhor foram lançados. Reconsiderem: ainda há alguma semente no celeiro? Até hoje a videira, a figueira, a romeira e a oliveira não têm dado fruto. Mas, de hoje em diante, abençoarei vocês” (Ag 2.18-19). Zacarias também estabelece uma relação entre o pecado humano e a desolação da terra. Aqueles que estão no poder não devem oprimir “a viúva e o órfão, nem o estrangeiro e o necessitado” (Zc 7.10). “Endureceram o coração e não ouviram a Lei e as palavras que o Senhor dos Exércitos tinha falado” (Zc 7.12). Como resultado, o meio ambiente ficou degradado e, assim, “a terra que deixaram para trás ficou tão destruída que ninguém podia atravessá-la” (Zc 7.14). Na verdade, Joel havia observado o início dessa degradação muito antes do exílio. “A vinha está seca, e a figueira murchou; a romãzeira, a palmeira, a macieira e todas as árvores do campo secaram. Secou-se, mais ainda, a alegria dos homens” (Jl 1.12).

Dada a importância do trabalho e de suas práticas para o bem-estar do meio ambiente, se os cristãos trabalhassem de acordo com a visão dos Doze Profetas, poderíamos gerar um impacto profundamente benéfico no planeta e em todos os habitantes. [1] É uma responsabilidade ambiental urgente dos fiéis aprenderem concretamente como fundamentar seu trabalho no culto a Deus.

O longo oráculo de Ageu sobre a pureza (Ag 2.10-19) também sugere uma conexão entre a pureza e a saúde da terra. Deus denuncia que, por causa da impureza do povo, “tudo o que fazem e tudo o que me oferecem é impuro” (Ag 2.14). Isso faz parte do vínculo mais geral entre a adoração e a condição do meio ambiente. Uma aplicação possível é que um ambiente puro significa um ambiente tratado de maneira sustentável por aqueles a quem Deus deu a responsabilidade por seu bem-estar, ou seja, a humanidade. Assim, a pureza implica respeito fundamental pela integridade de toda a ordem criada, pela saúde de suas ecosferas, pela viabilidade e pelo bem-estar de suas espécies, e pela capacidade de renovação de sua produtividade. E, assim, voltamos ao tema dos cristãos e das práticas de trabalho responsável.

Consequentemente, se a desolação é parte do castigo de Deus pelo pecado do povo relatado no Livro dos Doze, o solo produtivo é parte da restauração do povo. De fato, em circunstâncias bem diferentes, Zacarias tem uma visão muito semelhante à de Amós durante o tempo da prosperidade israelita: pessoas experimentando bem-estar, representado pelo ato de sentarem-se sob as figueiras que plantaram. “‘Naquele dia’, declara o Senhor dos Exércitos, ‘cada um de vocês convidará seu próximo para assentar-se debaixo da sua videira e debaixo da sua figueira’” (Zc 3.10). A paz com Deus inclui cuidar da terra que ele criou. A terra produtiva, é claro, precisa ser trabalhada para produzir seus frutos. E, assim, o mundo do trabalho está intimamente ligado à concretização da vida abundante.

O pecado e a esperança permanecem presentes no trabalho (Malaquias 1.1—4.6)

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Mesmo no tempo da restauração, o pecado humano nunca está distante. Malaquias, o terceiro dos profetas da restauração, queixa-se de que algumas pessoas começam a lucrar fraudando o salário do trabalhadores (Ml 3.5). Não é de surpreender que elas também corrompam a adoração no templo, reduzindo sua contribuição em ofertas (Ml 1.8-19) e assim colaborando para a degradação do meio ambiente (Ml 3.11).

No entanto, a esperança dos profetas se mantém, e o trabalho está no centro dela. Começa com a promessa de restaurar a infraestrutura religiosa/social do templo. “‘Vejam, eu enviarei o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim. E então, de repente, o Senhor que vocês buscam virá para o seu templo; o mensageiro da aliança, aquele que vocês desejam, virá’, diz o Senhor dos Exércitos” (Ml 3.1). Prossegue com a restauração do meio ambiente. “Impedirei que pragas devorem suas colheitas” (Ml 3.11a), Deus promete, e, então, “a terra de vocês será maravilhosa” (Ml 3.12). As pessoas trabalharão de forma ética (Ml 3.14,18) e, como resultado, a economia será restaurada, uma vez que “as videiras nos campos não perderão o seu fruto” (Ml 3.11b).

Jonas e a bênção de Deus para todas as nações

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Como observado na Introdução, o livro de Jonas é um estranho entre os doze profetas. A trama não ocorre em Israel. O texto não dá nenhuma indicação de data. Não contém oráculos proféticos, e o foco não está nas pessoas a quem o profeta é enviado, mas em sua experiência pessoal. [1] No entanto, ele compartilha a perspectiva dos outros profetas de que Deus está ativo no mundo (Jn 1.2,17; 2.10) e de que a fidelidade a Deus (ou a falta dela) está por trás da tripla relação entre adoração, saúde socioeconômica e meio ambiente. Quando os marinheiros oram ao Senhor e obedecem à sua palavra, o mar se acalma e Deus provê o bem-estar deles e de Jonas (Jn 1.14-19). Quando Jonas volta a adorar adequadamente, o Senhor devolve o ambiente à sua ordem correta: peixes no mar, pessoas em terra firme (Jn 2.7-10). Quando Nínive se volta para o Senhor, os animais e os seres humanos se unem em harmonia e as violações socioeconômicas cessam (Jn 3.4-10). O cenário de Jonas é diferente do restante dos Doze Profetas, mas não de sua teologia. As contribuições singulares do livro de Jonas são: 1) foco no chamado e na resposta do profeta e 2) reconhecimento de que Deus não trabalha para abençoar Israel em detrimento das outras nações, mas para abençoar as outras nações por meio de Israel. [2]

O chamado e a resposta de Jonas (Jonas 1.1-17)

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Como é típico nos Doze Profetas, o livro de Jonas começa com um chamado de Deus ao profeta (Jn 1.1-2). Ao contrário dos outros, porém, Jonas rejeita o chamado de Deus. Tolamente, ele tenta fugir da presença do Senhor pegando um navio para terras estrangeiras (Jn 1.3). Isso põe em perigo não apenas a ele, mas seus companheiros de bordo, pois — como vimos em todo o Livro dos Doze — quebrar a aliança com Deus tem consequências tangíveis, e as ações dos indivíduos sempre afetam a comunidade. Deus envia uma tempestade. Primeiro, ela destrói as perspectivas comerciais dos marinheiros, que são forçados a jogar toda a carga no mar para aliviar o peso do navio (Jn 1.5). Por fim, ela ameaça a própria vida deles (Jn 1.11). Somente quando Jonas se oferece para ser lançado ao mar — o que os marinheiros aceitam com relutância — a tempestade se acalma e o perigo para a comunidade diminui (Jn 1.12-15).

O propósito do chamado de Deus é servir pessoas. O chamado de Jonas é para o benefício de Nínive. Quando ele rejeita a orientação de Deus, não apenas as pessoas para quem ele foi chamado a servir se debilitam, mas também sofrem as que estão ao seu redor. Se aceitarmos que todos somos chamados para servir a Deus no trabalho — o que provavelmente é diferente da obra de Jonas, mas não menos importante para Deus (ver artigo do Projeto Teologia do Trabalho, Visão geral sobre Vocação) —, reconheceremos que deixar de servir a Deus no trabalho também enfraquecerá nossas comunidades. Quanto mais poderosos forem os dons e talentos recebidos, maior será o dano que poderemos causar se rejeitarmos a orientação de Deus no trabalho. Todos nós certamente conseguimos nos lembrar de pessoas cujas habilidades prodigiosas lhes permitiram causar grandes danos no setor empresarial, governamental, social, científico, religioso etc. Imagine o bem que elas poderiam ter feito, e o mal que poderiam ter evitado, se tivessem submetido suas habilidades primeiro à adoração e ao serviço do Senhor. Comparativamente, nossos dons podem parecer insignificantes, mas imagine o bem que poderíamos fazer e o mal que poderíamos evitar se, ao longo da vida, concentrássemos o trabalho a serviço de Deus.

A bênção de Deus para todas as nações (Jonas 1.16; 3.1—4.2)

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Jonas desobedece ao chamado de Deus porque se opõe à intenção de Deus de abençoar os adversários de Israel, ou seja, a nação da Assíria e sua capital, Nínive. Quando finalmente cede e sua missão é bem-sucedida, ele se ressente da misericórdia de Deus para com eles (Jn 4.1-2). Isso é compreensível, pois, mais adiante, a Assíria conquistaria o reino do norte, Israel (2Rs 17.6). Jonas está sendo enviado para abençoar pessoas que ele despreza. No entanto, essa é a vontade de Deus. Aparentemente, a intenção de Deus é usar o povo de Israel para abençoar todas as nações, não apenas a eles (veja "Abençoe a sociedade em geral por meio de seu trabalho (Jeremias 29)" em Jeremias e Lamentações e trabalho).

É possível colocarmos as próprias limitações ao alcance das bênçãos de Deus por meio de nosso trabalho? É comum presumir que temos de acumular os benefícios de nosso trabalho para nós mesmos a fim de que outros não obtenham vantagem sobre nós. Podemos recorrer ao sigilo e ao engano, à trapaça e à corrupção, à exploração e à intimidação num esforço para obter vantagem sobre os rivais no trabalho. Parece que aceitamos como fato a suposição não comprovada de que nosso sucesso no trabalho deve vir às custas dos demais. Será que passamos a acreditar que o sucesso é um jogo em que um precisa perder para o outro poder ganhar?

A bênção de Deus não é um balde de capacidade limitada, mas uma fonte transbordante. “‘Ponham-me à prova’, diz o Senhor dos Exércitos, ‘e vejam se não vou abrir as comportas dos céus e derramar sobre vocês tantas bênçãos que nem terão onde guardá-las’” (Ml 3.10). Apesar da concorrência, das restrições de recursos e da maldade que muitas vezes enfrentamos no trabalho, a missão de Deus para nós não é nada tão insignificante quanto a sobrevivência contra todas as probabilidades, mas sim a maravilhosa transformação de nosso local de trabalho para alimentar a criatividade e a produtividade, os relacionamentos e a harmonia social bem como o equilíbrio ambiental que Deus pretendia desde o início.

Embora Jonas inicialmente se recuse a participar da bênção de Deus para seus adversários, no final sua fidelidade ao Senhor supera sua desobediência. Por fim, ele adverte Nínive e, para sua consternação, eles respondem apaixonadamente à sua mensagem. Toda a cidade, “do maior ao menor” (Jn 3.5b), desde o rei e seus nobres até as pessoas nas ruas e os animais em seus rebanhos, creram e deixaram “os maus caminhos e a violência” (Jn 3.8). “Os ninivitas creram em Deus” (Jn 3.5a) e, “tendo em vista o que eles fizeram e como abandonaram os seus maus caminhos, Deus se arrependeu e não os destruiu como tinha ameaçado” (Jn 3.10). Isso é desanimador para Jonas, porque ele continua a querer ditar os resultados da obra para a qual Deus o chamou. Ele quer punição para Nínive, não perdão. Ele julga os resultados de seu próprio trabalho com severidade (Jn 4.5) e não desfruta da alegria dos outros. Fazemos o mesmo? Quando lamentamos a aparente falta de significado e sucesso no trabalho, não estaríamos nos esquecendo de que apenas Deus pode ver o verdadeiro valor daquilo que fazemos?

No entanto, mesmo os pequenos e hesitantes momentos de obediência a Deus na vida de Jonas levam a bênçãos para aqueles que estão ao seu redor. No navio, ele reconhece que é “hebreu, adorador do Senhor, o Deus dos céus” (Jn 1.9) e se sacrifica pelo bem de seus companheiros de bordo. Como resultado, eles são salvos da tempestade e ainda se tornam seguidores do Senhor. “Tomados de grande temor ao Senhor, os homens lhe ofereceram um sacrifício e se comprometeram por meio de votos” (Jn 1.16).

Se reconhecermos que nosso trabalho no serviço de Deus é prejudicado por desobediência, ressentimento, negligência, medo, egoísmo ou outros males, a experiência de Jonas poderá ser um incentivo para nós. Temos aqui um profeta cujo fracasso no serviço fiel talvez seja ainda maior que o nosso. No entanto, Deus realiza plenamente sua missão por meio do serviço hesitante, falho e intermitente de Jonas. Pelo poder de Deus, nosso serviço deficiente pode realizar tudo o que Deus pretende.

O cuidado de Deus por aqueles que respondem ao seu chamado (Jonas 1.3,12-14, 17; 2.10; 4.3-8)

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À luz da experiência de Jonas, talvez temamos que o chamado de Deus nos leve a calamidades e dificuldades. Não seria mais fácil esperar que Deus não nos chamasse? É verdade que responder ao chamado de Deus pode exigir grande sacrifício e privações. [1] No entanto, no caso de Jonas, a dificuldade não surge do chamado de Deus, mas da desobediência de Jonas em atendê-lo. O naufrágio e os três dias de sepultamento no mar, nas entranhas do grande peixe, advêm diretamente de sua tentativa de fugir da presença de Deus. Sua exposição posterior ao sol e ao vento e o desespero que quase o leva ao suicídio (Jn 4.3-8) não são dificuldades impostas por Deus. Elas se dão porque Jonas se recusa a aceitar as bênçãos de um “Deus misericordioso e compassivo, muito paciente, cheio de amor e que [promete] castigar, mas depois [se arrepende]” (Jn 4.2).

A verdade é que Deus está sempre trabalhando para cuidar de Jonas e para consolá-lo. Deus move as pessoas para que tenham compaixão dele, como ocorreu quando os marinheiros tentam levar o navio a terra firme em vez de aceitar a oferta de Jonas de ser jogado ao mar (Jn 1.12-14). Deus envia um peixe para salvar Jonas do afogamento (Jn 1.17) e, depois, diz ao peixe que vomite Jonas em terra firme (Jn 2.10). Ele concede a Jonas o favor da população inimiga de Nínive, que o trata bem e ouve sua mensagem. Fornece sombra e abrigo a Jonas, em Nínive (Jn 4.5-6), em seu momento de maior necessidade.

Se o caso de Jonas pode servir de exemplo, o chamado de Deus para servir os outros no trabalho não precisa vir à custa de nosso bem-estar. Esperar o contrário seria permanecer preso à mentalidade do jogo em que é preciso um perder para que o outro ganhe. Dadas as medidas extraordinárias que Deus toma para cuidar de Jonas quando este rejeita seu chamado, imagine as bênçãos que Jonas poderia ter experimentado se tivesse aceitado o chamado desde o início. Os meios para viajar, amigos dispostos a arriscar a vida por ele, harmonia com o mundo da natureza, sombra e abrigo, a estima das pessoas entre as quais ele trabalha e um sucesso surpreendente no trabalho — imagine que grande bênção todas essas coisas poderiam ter sido se Jonas as tivesse aceitado como Deus pretendia. Mesmo Jonas depreciando-as, elas mostram que o chamado de Deus para o serviço também é um convite à bênção.

Conclusões dos Doze Profetas

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O Livro dos Doze Profetas traz uma perspectiva unificada sobre o trabalho para uma diversidade de épocas e situações na vida de Israel. Todos os momentos demonstram que Deus está trabalhando no mundo, pronto para trazer o melhor a seu povo, se este simplesmente guardar sua aliança. Antes do exílio, os profetas desafiaram as elites de Israel quanto ao uso do poder e à fidelidade na adoração. Seu tema constante é que nenhuma adoração é aceitável para Deus a menos que seja acompanhada de justiça econômica e política, pois Deus não reconhece separação entre o serviço de adoração e o trabalho da vida cotidiana. Ele não aceita que alguns prosperem sem nada fazer pelo bem comum e pelos membros mais pobres e vulneráveis ​​da sociedade.

O fracasso de Israel em trabalhar/adorar como Deus ordena leva à catástrofe nacional e ao exílio na Babilônia. Durante o exílio, os profetas chamam o povo a encarar seus fracassos e, ao fazê-lo, descobrem que, mesmo nos piores momentos, eles tiveram a oportunidade de ser fiéis. Mais uma vez, sua fidelidade é vista tanto no trabalho quanto na adoração. Aqueles que trabalham apenas por interesses egoístas não estão em melhor situação do que os que adoram ídolos. De fato, ao elevar o trabalho e a consequente riqueza a fins em si mesmos, o trabalho se resume a idolatria. Mas aqueles que trabalham com justiça, de acordo com a aliança de Deus, descobrirão que mesmo nas piores circunstâncias Deus está presente no trabalho, trazendo alegria e frutos.

Após o retorno do exílio, os profetas desafiam Israel a manter prioridades piedosas enquanto se restabelecem na terra e a reconstroem da devastação. Mais uma vez, o desenvolvimento econômico, o comércio justo, o governo que provê o bem comum e o trabalho a serviço do outro formam a base da verdadeira adoração. Todos são chamados a trabalhar em cooperação com Deus e com a comunidade de fé visando à paz e ao bem-estar que Deus deseja para sua criação.

Assim como no antigo Israel, esse ainda é nosso chamado. Na ordenação hebraica do Antigo Testamento, que os cristãos também observam, o Livro dos Doze Profetas tem a última palavra antes que as páginas do Novo Testamento sejam abertas. Assim, eles apontam para Jesus, que veio para cumprir a esperança dos profetas quanto à vida abundante em todas as esferas da atividade humana, incluindo o trabalho, e, ao fazê-lo, concretizam a promessa que Deus fez a Zacarias: “Assim diz o Senhor dos Exércitos: ‘As minhas cidades transbordarão de prosperidade novamente’”(Zc 1.17).

Versículos-chave e temas de referência cruzada nos Doze Profetas

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Versículo

Seção

Oseias 1.2 Quando o Senhor começou a falar por meio de Oseias, disse-lhe: “Vá, tome uma mulher adúltera e filhos da infidelidade, porque a nação é culpada do mais vergonhoso adultério por afastar-se do Senhor”.

Deus exige mudanças

Oseias 4.3 Por isso a terra pranteia, e todos os seus habitantes desfalecem; os animais do campo, as aves do céu e os peixes do mar estão morrendo.

Trabalho e adoração

Oseias 4.7-10 Quanto mais aumentaram os sacerdotes, mais eles pecaram contra mim; trocaram a Glória deles por algo vergonhoso. Eles se alimentam dos pecados do meu povo [...]. Eles comerão, mas não terão o suficiente; eles se prostituirão, mas não aumentarão a prole, porque abandonaram o Senhor [...].

Trabalho e adoração

Oseias 14.1-9 Volte, ó Israel, para o Senhor, o seu Deus. Seus pecados causaram sua queda! Preparem o que vão dizer e voltem para o Senhor. Peçam-lhe: “Perdoa todos os nossos pecados e, por misericórdia, recebe-nos, para que te ofereçamos o fruto dos nossos lábios. A Assíria não nos pode salvar; não montaremos cavalos de guerra. Nunca mais diremos: ‘Nossos deuses àquilo que as nossas próprias mãos fizeram’, porque tu amas o órfão”. [...] Os caminhos do Senhor são justos; os justos andam neles, mas os rebeldes neles tropeçam.

Deus torna a mudança possível

Joel 2.28-29 “E, depois disso, derramarei do meu Espírito sobre todos os povos. Os seus filhos e as suas filhas profetizarão, os velhos terão sonhos, os jovens terão visões. Até sobre os servos e as servas derramarei do meu Espírito naqueles dias.”

Trabalhar injustamente

Amós 3.13-15 “Ouçam isto e testemunhem contra a descendência de Jacó”, declara o Senhor, o Soberano, o Deus dos Exércitos. “No dia em que eu castigar Israel por causa dos seus pecados, destruirei os altares de Betel; as pontas do altar serão cortadas e cairão no chão. Derrubarei a casa de inverno junto com a casa de verão; as casas enfeitadas de marfim serão destruídas, e as mansões desaparecerão”, declara o Senhor.

Apatia devido à riqueza

Amós 5.14 Busquem o bem, não o mal, para que tenham vida. Então o Senhor, o Deus dos Exércitos, estará com vocês, conforme vocês afirmam.

Trabalho injusto

Amós 5.21-24 “Eu odeio e desprezo as suas festas religiosas; não suporto as suas assembleias solenes. Mesmo que vocês me tragam holocaustos e ofertas de cereal, isso não me agradará. [...] Afastem de mim o som das suas canções e a música das suas liras. Em vez disso, corra a retidão como um rio, a justiça como um ribeiro perene!”

Trabalho e adoração

Amós 6.4-7 Ai de vocês que vivem tranquilos em Sião e que se sentem seguros no monte de Samaria; vocês, homens notáveis da primeira entre as nações, aos quais o povo de Israel recorre! Vão a Calné e olhem para ela; depois prossigam até a grande Hamate e, em seguida, desçam até Gate, na Filístia. São elas melhores do que os seus dois reinos? [...] Por isso vocês estarão entre os primeiros a ir para o exílio; cessarão os banquetes dos que vivem no ócio.

Apatia devido à riqueza

Amós 6.7 Por isso vocês estarão entre os primeiros a ir para o exílio; cessarão os banquetes dos que vivem no ócio.

Apatia devido à riqueza

Amós 9.11-15 “Naquele dia, levantarei a tenda caída de Davi. Consertarei o que estiver quebrado, e restaurarei as suas ruínas. Eu a reerguerei, para que seja como era no passado, para que o meu povo conquiste o remanescente de Edom e todas as nações que me pertencem”, declara o Senhor, que realizará essas coisas. “[...] Plantarei Israel em sua própria terra, para nunca mais ser desarraigado da terra que lhe dei”, diz o Senhor, o seu Deus.

Deus torna a mudança possível

Obadias 1.21 Os vencedores subirão ao monte Sião para governar a montanha de Esaú. E o reino será do Senhor.

Deus torna a mudança possível

Jonas 4.2 Ele orou ao Senhor: “Senhor, não foi isso que eu disse quando ainda estava em casa? Foi por isso que me apressei em fugir para Társis. Eu sabia que tu és Deus misericordioso e compassivo, muito paciente, cheio de amor e que prometes castigar, mas depois te arrependes”.

A bênção de Deus para todas as nações

Miqueias 2.2 Cobiçam terrenos e se apoderam deles; cobiçam casas e as tomam. Fazem violência ao homem e à sua família; a ele e aos seus herdeiros.

Deus exige mudanças

Miqueias 4.1-5 Nos últimos dias, acontecerá que o monte do templo do Senhor será estabelecido como o principal entre os montes e se elevará acima das colinas. E os povos a ele acorrerão. Muitas nações virão, dizendo: “Venham, subamos ao monte do Senhor, ao templo do Deus de Jacó. Ele nos ensinará os seus caminhos, para que andemos nas suas veredas”. [...] Pois todas as nações andam, cada uma em nome dos seus deuses, mas nós andaremos em nome do Senhor, o nosso Deus, para todo o sempre.

Deus torna a mudança possível

Miqueias 4.3 Ele julgará entre muitos povos e resolverá contendas entre nações poderosas e distantes. Das suas espadas farão arados, e das suas lanças, foices. Nenhuma nação erguerá a espada contra outra, e não aprenderão mais a guerra.

Deus torna a mudança possível

Miqueias 6.6-7 Com que eu poderia comparecer diante do Senhor e curvar-me perante o Deus exaltado? Deveria oferecer holocaustos de bezerros de um ano? Ficaria o Senhor satisfeito com milhares de carneiros, com dez mil ribeiros de azeite? Devo oferecer o meu filho mais velho por causa da minha transgressão, o fruto do meu corpo por causa do pecado que eu cometi?

Trabalho e adoração

Miqueias 6.8 Ele mostrou a você, ó homem, o que é bom e o que o Senhor exige: pratique a justiça, ame a fidelidade e ande humildemente com o seu Deus.

Trabalho e adoração

Naum 1.1-12 Advertência contra Nínive. Livro da visão de Naum, de Elcós. O Senhor é Deus zeloso e vingador! O Senhor é vingador! Seu furor é terrível! O Senhor executa vingança contra os seus adversários e manifesta o seu furor contra os seus inimigos. O Senhor é muito paciente, mas o seu poder é imenso; o Senhor não deixará impune o culpado. O seu caminho está no vendaval e na tempestade, e as nuvens são a poeira de seus pés. [...] Assim diz o Senhor: “Apesar de serem fortes e numerosos, serão ceifados e destruídos; mas você, Judá, embora eu a tenha afligido, não a afligirei mais”.

Fé e trabalho durante o exílio

Habacuque 2.1 Ficarei no meu posto de sentinela e tomarei posição sobre a muralha; aguardarei para ver o que o Senhor me dirá e que resposta terei à minha queixa.

Fé e trabalho durante o exílio

Habacuque 2.6-7 “Ai daquele que amontoa bens roubados e enriquece mediante extorsão! Até quando isto continuará assim?” Não se levantarão de repente os seus credores? Não se despertarão os que o fazem tremer? Agora você se tornará vítima deles.

Fé e trabalho durante o exílio

Habacuque 2.15-16 Ai daquele que dá bebida ao seu próximo, misturando-a com o seu furor, até que ele fique bêbado, para lhe contemplar a nudez. Beba bastante vergonha, em vez de glória! Sim! Beba, você também, e exponha-se! A taça da mão direita do Senhor é dada a você; muita vergonha cobrirá a sua glória.

Fé e trabalho durante o exílio

Habacuque 2.18-19 “De que vale uma imagem feita por um escultor? Ou um ídolo de metal que ensina mentiras? Pois aquele que o faz confia em sua própria criação, fazendo ídolos incapazes de falar. Ai daquele que diz à madeira: ‘Desperte!’ Ou à pedra sem vida: ‘Acorde!’ Poderá o ídolo dar orientação? Está coberto de ouro e prata, mas não respira.”

Trabalho idólatra

Habacuque 2.20 “O Senhor, porém, está em seu santo templo; diante dele fique em silêncio toda a terra.”

Trabalho idólatra

Habacuque 3.17-19 Mesmo não florescendo a figueira e não havendo uvas nas videiras, mesmo falhando a safra de azeitonas e não havendo produção de alimento nas lavouras, nem ovelhas no curral, nem bois nos estábulos, ainda assim eu exultarei no Senhor e me alegrarei no Deus da minha salvação. O Senhor, o Soberano, é a minha força; ele faz os meus pés como os do cervo; faz-me andar em lugares altos.

Fidelidade em meio à labuta

Sofonias 1.18 Nem a sua prata nem o seu ouro poderão livrá-los no dia da ira do Senhor. No fogo do seu zelo o mundo inteiro será consumido, pois ele dará fim repentino a todos os que vivem na terra.

Trabalho idólatra

Sofonias 2.1-3 Reúna-se e ajunte-se, nação sem pudor, antes que chegue o tempo determinado e aquele dia passe como a palha, antes que venha sobre vocês a ira impetuosa do Senhor, antes que o dia da ira do Senhor os alcance. Busquem o Senhor, todos vocês, os humildes da terra, vocês que fazem o que ele ordena. Busquem a justiça, busquem a humildade; talvez vocês tenham abrigo no dia da ira do Senhor.

Fidelidade em meio à labuta

Sofonias 2.3 Busquem o Senhor, todos vocês, os humildes da terra, vocês que fazem o que ele ordena. Busquem a justiça, busquem a humildade; talvez vocês tenham abrigo no dia da ira do Senhor.

Fidelidade em meio à labuta

Ageu 1.2-4 “Assim diz o Senhor dos Exércitos: Este povo afirma: ‘Ainda não chegou o tempo de reconstruir a casa do Senhor’”. Por isso, a palavra do Senhor veio novamente por meio do profeta Ageu: “Acaso é tempo de vocês morarem em casas de fino acabamento, enquanto a minha casa continua destruída?”.

Fé e trabalho durante o exílio

Ageu 1.9 “Vocês esperavam muito, mas, eis que veio pouco. E o que vocês trouxeram para casa eu dissipei com um sopro. E por que o fiz?”, pergunta o Senhor dos Exércitos. “Por causa do meu templo, que ainda está destruído enquanto cada um de vocês se ocupa com a sua própria casa.”

Fé e trabalho durante o exílio

Ageu 1.10-15 “Por isso, por causa de vocês, o céu reteve o orvalho e a terra deixou de dar o seu fruto. Nos campos e nos montes provoquei uma seca que atingiu o trigo, o vinho, o azeite e tudo mais que a terra produz, e também os homens e o gado. [...]” Assim o Senhor encorajou o governador de Judá, Zorobabel, filho de Sealtiel, o sumo sacerdote Josué, filho de Jeozadaque, e todo o restante do povo, e eles começaram a trabalhar no templo do Senhor dos Exércitos, o seu Deus, no vigésimo quarto dia do sexto mês do segundo ano do reinado de Dario.

Fé e trabalho durante o exílio

Ageu. 1.11 “Nos campos e nos montes provoquei uma seca que atingiu o trigo, o vinho, o azeite e tudo mais que a terra produz, e também os homens e o gado. O trabalho das mãos de vocês foi prejudicado.”

Fé e trabalho durante o exílio

Ageu. 1.14-15 Assim o Senhor encorajou o governador de Judá, Zorobabel, filho de Sealtiel, o sumo sacerdote Josué, filho de Jeozadaque, e todo o restante do povo, e eles começaram a trabalhar no templo do Senhor dos Exércitos, o seu Deus, no vigésimo quarto dia do sexto mês do segundo ano do reinado de Dario.

Fé e trabalho durante o exílio

Ageu. 2.7-8 “Encherei este templo de glória”, diz o Senhor dos Exércitos. “Tanto a prata quanto o ouro me pertencem”, declara o Senhor dos Exércitos.

Fé e trabalho durante o exílio

Ageu. 2.18-19 “Atentem para o dia em que os fundamentos do templo do Senhor foram lançados. Reconsiderem: ainda há alguma semente no celeiro? Até hoje a videira, a figueira, a romeira e a oliveira não têm dado fruto. Mas, de hoje em diante, abençoarei vocês.”

Fé e trabalho durante o exílio

Zacarias 1.17 “Assim diz o Senhor dos Exércitos: ‘As minhas cidades transbordarão de prosperidade novamente, e o Senhor tornará a consolar Sião e a escolher Jerusalém’.”

Conclusões

Zacarias 3.10 “‘Naquele dia’, declara o Senhor dos Exércitos, ‘cada um de vocês convidará seu próximo para assentar-se debaixo da sua videira e debaixo da sua figueira’.”

Fé e trabalho durante o exílio

Zacarias 7.9-14 “Assim diz o Senhor dos Exércitos: Administrem a verdadeira justiça, mostrem misericórdia e compaixão uns para com os outros. Não oprimam a viúva e o órfão, nem o estrangeiro e o necessitado. Nem tramem maldades uns contra os outros”. Mas eles se recusaram a dar atenção; [...]. Por isso o Senhor dos Exércitos irou-se muito. “Quando eu os chamei, não me deram ouvidos; por isso, quando eles me chamarem, também não os ouvirei [...]. Eu os espalhei com um vendaval entre nações que eles nem conhecem. A terra que deixaram para trás ficou tão destruída que ninguém podia atravessá-la. Foi assim que transformaram a terra aprazível em ruínas.”

Fé e trabalho durante o exílio

Malaquias 1.7-14 “Trazendo comida impura ao meu altar! E mesmo assim ainda perguntam: ‘De que maneira te desonramos?’ “Ao dizerem que a mesa do Senhor é desprezível. Na hora de trazerem animais cegos para sacrificar, vocês não veem mal algum. Na hora de trazerem animais aleijados e doentes como oferta, também não veem mal algum. [...] Não tenho prazer em vocês”, diz o Senhor dos Exércitos, “e não aceitarei as suas ofertas. [...] Maldito seja o enganador que, tendo no rebanho um macho sem defeito, promete oferecê-lo e depois sacrifica para mim um animal defeituoso”, diz o Senhor dos Exércitos; “pois eu sou um grande rei, e o meu nome é temido entre as nações.”

Fé e trabalho durante o exílio

Malaquias 3.1 “Vejam, eu enviarei o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim. E então, de repente, o Senhor que vocês buscam virá para o seu templo; o mensageiro da aliança, aquele que vocês desejam, virá”, diz o Senhor dos Exércitos.

Fé e trabalho durante o exílio

Malaquias 3.11-12 “Impedirei que pragas devorem suas colheitas, e as videiras nos campos não perderão o seu fruto”, diz o Senhor dos Exércitos. “Então todas as nações os chamarão felizes, porque a terra de vocês será maravilhosa”, diz o Senhor dos Exércitos.

Fé e trabalho durante o exílio