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Levítico e o trabalho

Comentário Bíblico / Produzido por Projeto Teologia do Trabalho
Leviticus bible commentary

Introdução — Levítico tem algo a nos dizer sobre nosso trabalho?

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Levítico é uma ótima fonte para pessoas que buscam orientação sobre seu trabalho. O livro está repleto de instruções diretas e práticas, embora a ação ocorra em um ambiente de trabalho diferente do que a maioria de nós vivencia hoje. Além disso, Levítico é um dos lugares centrais onde Deus revela a si mesmo e seus objetivos para nossa vida e nosso trabalho. O livro está no centro físico do Pentateuco, o terceiro dos cinco livros de Moisés que formam a narrativa e o fundamento teológico do Antigo Testamento. O segundo livro, Êxodo, conta do que Deus tirou seu povo. Levítico diz para onde Deus guia seu povo, [1] uma vida cheia da própria presença de Deus. Em Levítico, o trabalho é uma das arenas mais importantes em que Deus está presente com Israel, e Deus ainda está presente conosco em nosso trabalho hoje.

Levítico também é central para o ensino de Jesus e para o restante do Novo Testamento. O Grande Mandamento que Jesus ensinou (Mc 12.28-31) vem diretamente de Levítico 19.18: “Ame cada um o seu próximo como a si mesmo”. O “ano sabático” ou “ano do jubileu” em Levítico 25 está no centro da declaração de missão de Jesus: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para... proclamar o ano da graça [o Jubileu] do Senhor” (Lc 4.18-19). Quando Jesus disse que nem “a menor letra ou o menor traço” da lei passaria (Mt 5.18), muitas dessas letras e traços são encontrados em Levítico. Jesus ofereceu uma nova visão sobre a lei — que a maneira de cumprir a lei não é encontrada no cumprimento de regras, mas na cooperação com os propósitos para os quais Deus a criou. Devemos cumprir a lei “com dedicação” (1Co 12.31), de um modo que excede — não ignora — a letra da lei. Se desejamos cumprir o Espírito da lei, como Jesus fez, devemos começar aprendendo o que a lei realmente diz. Grande parte dela se encontra em Levítico, e grande parte se aplica ao trabalho.

Visto que Levítico é central para o ensino de Jesus sobre o trabalho, como seguidores de Jesus, estamos certos em recorrer ao livro em busca de orientação sobre a vontade de Deus para nosso trabalho. É claro que devemos ter em mente que os códigos de Levítico devem ser entendidos e aplicados às diferentes situações econômicas e sociais de hoje. A sociedade atual não está em um paralelo próximo com o antigo Israel, tanto em termos de nossa estrutura social como de nosso relacionamento de aliança. A maioria dos trabalhadores de hoje, por exemplo, tem pouca necessidade de saber o que fazer com um boi ou uma ovelha que foi dilacerada por animais selvagens (Lv 7.24). O sacerdócio levítico, a quem grande parte do livro é dirigido — sacerdotes que realizam sacrifícios de animais ao Deus de Israel — não existe mais. Além disso, em Cristo, entendemos que a lei é um instrumento da graça de Deus de uma maneira diferente de como o antigo Israel o fazia. Portanto, não podemos simplesmente citar Levítico como se nada tivesse mudado no mundo. Não podemos ler um versículo e proclamar “Assim diz o Senhor” como um juízo contra aqueles de quem discordamos. Em vez disso, temos de entender o significado, os propósitos e a mente de Deus revelados em Levítico e, em seguida, pedir a sabedoria de Deus para aplicar Levítico aos dias de hoje. Somente assim nossa vida refletirá sua santidade, honrará suas intenções e decretará o governo de seu Reino celestial na terra.

O conceito fundamental de santidade em Levítico

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O livro de Levítico está fundamentado na verdade de que Deus é santo. A palavra qodesh ocorre mais de cem vezes no texto hebraico de Levítico. Dizer que Deus é santo significa que ele está completamente separado de todo mal ou defeito. Ou, em outras palavras, Deus é completa e perfeitamente bom. O Senhor é digno de total lealdade, adoração exclusiva e obediência amorosa.

A identidade de Israel surge porque, pelas ações de Deus, o povo é santo, mas também porque o Senhor espera de Israel um agir santo de maneiras práticas. Israel é chamado para ser santo porque o próprio Senhor é santo (Lv 11.44-45; 19.2; 20.7; 21.8). As leis aparentemente distantes de Levítico, que lidam com os aspectos rituais, éticos, comerciais e penais da vida, todas se baseiam nessa noção central de santidade.

Alexander Hill, então, está seguindo o princípio central de Levítico quando fundamenta sua discussão sobre a ética empresarial cristã na santidade, na justiça e no amor de Deus. “Um ato comercial é ético se reflete o caráter santo e justo de Deus.” [1] Hill afirma que, nos negócios, os cristãos refletem a santidade divina quando têm zelo por Deus, que é sua prioridade final, e agem com pureza, responsabilidade e humildade. Em vez de tentar reproduzir o código comercial projetado para uma sociedade agrária, é isso o que significa colocar o Levítico em prática hoje. Não se trata de ignorar as especificidades da lei, mas de discernir como Deus está nos guiando para cumpri-la no contexto de hoje.

Santidade em Levítico não é separação pelo separatismo, mas para que haja uma comunidade próspera do povo de Deus e a reconciliação de cada pessoa com Deus. A santidade não se trata apenas do comportamento dos indivíduos de acordo com os regulamentos, mas sobre como aquilo que cada pessoa faz afeta todo o povo de Deus em sua vida conjunta e em seu trabalho como agentes do Reino de Deus. Sob essa luz, o chamado de Jesus para que seu povo seja “sal” e “luz” para os de fora (Mt 5.13-16) faz todo o sentido. Ser santo é ir além da lei para amar o próximo, amar até mesmo o inimigo e ser “perfeitos como perfeito é o Pai celestial” (Mt 5.48, ecoando Lv 19.2).

Em suma, o antigo Israel não obedecia a Levítico como um conjunto peculiar de regras, mas como uma expressão da presença de Deus em seu meio. Isso é tão relevante para o povo de Deus hoje quanto era então. Em Levítico, Deus está pegando um grupo de tribos nômades e moldando sua cultura como povo. Da mesma forma, hoje, quando o povo de Deus entra em seu ambiente de trabalho, por meio deles, Deus está moldando as culturas de suas unidades de trabalho, organizações e comunidades. O chamado de Deus para ser santo, assim como ele é santo, é um chamado para moldar nossas culturas para o bem.

O sistema sacrificial de Israel (Levítico 1—10)

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O livro de Levítico começa com regulamentos para o sistema sacrificial de Israel, transmitidos a partir de duas perspectivas. A primeira perspectiva é a dos leigos que trazem o sacrifício e participam de sua oferta (capítulos 1—5). A segunda perspectiva é a dos sacerdotes que ministram (capítulos 6—7). Depois disso, aprendemos como os sacerdotes foram ordenados e começaram seu ministério no tabernáculo (capítulos 8—9), seguidos por regulamentos adicionais para os sacerdotes, à luz de como Deus matou os sacerdotes Nadabe e Abiú por violarem o mandamento de Deus sobre suas responsabilidades rituais (capítulo 10). Não devemos presumir que esse material seja uma liturgia vazia e irrelevante para o mundo do trabalho moderno. Em vez disso, devemos examinar a maneira como o povo de Israel lidou com seus problemas, a fim de explorar como nós, como pessoas em Cristo, podemos lidar com os nossos — incluindo os desafios que enfrentamos nos negócios e no trabalho.

A habitação de Deus na comunidade (Levítico 1—10)

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O propósito do sacrifício não era apenas remediar lapsos ocasionais de pureza. O verbo hebraico para “oferecer” um sacrifício significa literalmente “aproximar”. Trazer um sacrifício para perto do santuário aproximava o adorador de Deus. O grau individual de mau comportamento do adorador não era a questão principal. A poluição causada pela impureza é a consequência de toda a comunidade, composta pelos poucos que cometeram pecados descarados ou inadvertidos junto com a maioria silenciosa que permitiu que os ímpios florescessem em seu meio. O povo como um todo carrega a responsabilidade coletiva de corromper a sociedade e, assim, dar a Deus uma razão legítima para deixar seu santuário, um evento que equivale à destruição da nação. [1] Aproximar-se de Deus ainda é o objetivo daqueles que chamam Jesus de “Emanuel” (“Deus conosco”). A habitação de Deus com seu povo é, de fato, um assunto sério.

Os cristãos em seu ambiente de trabalho devem olhar além, buscando dicas piedosas para encontrar o que o mundo define como “sucesso”. Estar ciente de que Deus é santo e que ele deseja habitar no centro de nossa vida muda nossa orientação do sucesso para a santidade, seja qual for a obra que Deus nos chamou para fazer. Isso não significa fazer atividades religiosas no trabalho, mas fazer todo o nosso trabalho como Deus deseja que o façamos. O trabalho não é principalmente uma maneira de aproveitar o fruto de nosso trabalho, mas uma maneira de experimentar a presença de Deus. Assim como os sacrifícios de Israel eram um “aroma agradável” ao Senhor (Lv 1.9 e dezesseis outros casos), Paulo chamou os cristãos a viverem “de maneira digna do Senhor e em tudo... agradá-lo” (Cl 1.10), “porque para Deus somos o aroma de Cristo” (2Co 2.15).

O que poderia resultar se caminhássemos por nosso ambiente de trabalho e fizéssemos a pergunta fundamental: “Como este poderia ser um lugar para a presença santa de Deus?” Nosso ambiente de trabalho incentiva as pessoas a expressarem o melhor que Deus lhes deu? É um lugar caracterizado pelo tratamento justo de todos? Protege os trabalhadores de danos? Produz bens e serviços que ajudam a comunidade a prosperar mais plenamente?

Todo o povo de Deus em ação (Levítico 1—10)

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Levítico reúne as perspectivas de dois grupos que muitas vezes estavam em conflito um com o outro: os sacerdotes e o povo. Seu propósito é reunir todo o povo de Deus, sem levar em conta distinções de status. No ambiente de trabalho hoje, como os cristãos devem lidar com desavenças entre pessoas, independentemente de suas posses ou posição na empresa? Toleramos abusos de poder quando o resultado parece conveniente para nossa carreira? Participamos do julgamento de colegas de trabalho por meio de fofocas e insinuações, ou insistimos em expor nossas queixas por meio de sistemas imparciais? Prestamos atenção aos danos que o bullying e o favoritismo causam no trabalho? Promovemos uma cultura positiva, fomentamos a diversidade e construímos uma organização saudável? Permitimos uma comunicação aberta e confiável, combatemos a politicagem clandestina e buscamos o melhor desempenho? Criamos uma atmosfera em que as ideias surgem e são avaliadas, e as melhores são postas em ação? Focamos no crescimento sustentável?

O sistema sacrificial de Israel atendia não apenas às necessidades religiosas do povo, mas também às psicológicas e emocionais, abrangendo assim toda a pessoa e toda a comunidade. Os cristãos entendem que as empresas têm objetivos que geralmente não são de natureza religiosa. No entanto, também sabemos que as pessoas não são equivalentes ao que fazem ou produzem. Isso não reduz nosso compromisso de trabalhar para sermos produtivos, mas nos lembra que, porque Deus nos abraçou com seu perdão, temos ainda mais razões do que outros para ser atenciosos, justos e amáveis para com todos (Lc 7.47; Ef 4.32; Cl 3.13).

O significado da oferta pela culpa (Levítico 6.1-7)

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Cada oferta no sistema sacrificial de Israel tem seu lugar, mas há uma característica especial da oferta pela culpa (também conhecida como oferta de reparação) que a torna particularmente relevante para o mundo do trabalho. A oferta pela culpa de Levítico é a semente da doutrina bíblica do arrependimento.[1] (Números 5.5-10 é diretamente paralelo.) De acordo com Levítico, Deus exigia ofertas sempre que uma pessoa enganava outra com relação a um depósito ou promessa, cometesse roubo ou fraude, mentisse sobre bens perdidos que haviam sido encontrados ou jurasse falsamente sobre um assunto (Lv 6.2-3). Não foi uma multa imposta por um tribunal, mas uma reparação oferecida pelos autores que escaparam impunes da ofensa, mas que se sentiram culpados mais tarde, quando “perceberam” sua culpa (Lv 6.4-5). O arrependimento do pecador, e não a perseguição pelas autoridades, é a base da oferta pela culpa.

Muitas vezes, esses pecados teriam sido cometidos no contexto do comércio ou de outro trabalho. A oferta pela culpa exige que o pecador arrependido devolva o que foi tomado indevidamente acrescido de 20% (Lv 6.4-5). Somente depois de resolver a questão em nível humano, o pecador pode receber o perdão de Deus, apresentando um animal ao sacerdote para sacrifício (Lv 6.6-7).

A oferta de culpa enfatiza de maneira exclusiva vários princípios sobre a cura de relacionamentos pessoais que foram danificados por abuso financeiro.

1. O mero pedido de desculpas não é suficiente para corrigir o erro, nem a restauração completa do que foi tirado. Além disso, algo semelhante ao conceito atual de danos punitivos foi adicionado. Mas, com ofertas de culpa — ao contrário de indenizações punitivas ordenadas pelo tribunal —, os infratores voluntariamente assumem uma parte do dano, compartilhando assim o sofrimento que causaram à vítima.

2. Fazer todo o necessário para corrigir um erro contra outra pessoa não é apenas justo para o ofendido, mas também é bom para o ofensor. A oferta pela culpa reconhece o tormento que assola a consciência daqueles que reconhecem seu crime e seus efeitos danosos. Em seguida, fornece uma maneira de os culpados lidarem com o assunto de forma mais completa, trazendo um certo encerramento e paz. Essa oferta expressa a misericórdia de Deus, na medida em que a dor e a mágoa são neutralizadas, de modo a não inflamar e explodir em violência ou ofensas mais graves. Também extingue a necessidade de a vítima (ou sua família) resolver o problema com as próprias mãos para exigir a restituição.

3. Nada na obra expiatória de Jesus na cruz libera o povo de Deus hoje da necessidade de fazer restituição. Jesus ensinou a seus discípulos: “Portanto, se você estiver apresentando sua oferta diante do altar e ali se lembrar de que seu irmão tem algo contra você, deixe sua oferta ali, diante do altar, e vá primeiro reconciliar-se com seu irmão; depois volte e apresente sua oferta” (Mt 5.23-24). Amar nosso próximo como a nós mesmos está no cerne dos requisitos da lei (Lv 19.18, como citado em Rm 13.9), e fazer restituição é uma expressão essencial de qualquer tipo genuíno de amor. Jesus concedeu a salvação ao rico cobrador de impostos Zaqueu, que ofereceu mais restituição do que a lei exigia, elevando-o como um exemplo daqueles que realmente entendiam o perdão (Lc 19.1-10).

4. As palavras de Jesus em Mateus 5.23-24 também nos ensinam que fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para nos reconciliarmos com as pessoas é um aspecto essencial para acertar as coisas com Deus e viver em paz sempre que possível. Receber o perdão de Deus vai além, mas não devemos deixar de fazer restituição, sempre que possível, àqueles a quem prejudicamos. Em resposta ao perdão que Deus nos dá, nosso coração é movido a fazer tudo o que pudermos para reverter o dano que causamos aos outros. Raramente teremos a capacidade de desfazer completamente o dano que nosso pecado causou, mas o amor de Cristo nos impele a fazer o máximo que podemos.

A oferta pela culpa é um lembrete poderoso de que Deus não exerce seu direito de perdão às custas das pessoas prejudicadas por nossos erros. Ele não nos oferece libertação psicológica de nossa culpa como um substituto barato para reparar o dano e a mágoa que causamos.

O imundo e o puro (Levítico 11—16)

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No cerne disso, Levítico 11.45 explica a lógica temática de toda esta seção. “Eu sou o Senhor que os tirou da terra do Egito para ser o seu Deus; por isso, sejam santos, porque eu sou santo” (Lv 11.45). Deus chama Israel para refletir sua santidade em todos os aspectos da vida. Levítico 11—16 lida com a classificação de alimentos “limpos” e “impuros” (capítulo 11) e ritos de purificação (capítulos 12—15). Ele termina com o procedimento para celebrar o Dia da Expiação para purificar o povo e o santuário de Deus (capítulo 16).

Os cristãos também reconhecem que todos os aspectos de nossa vida devem ser uma resposta à santa presença de Deus entre nós. Mas os assuntos e o escopo das leis em Levítico tendem a nos deixar perplexos hoje. Existem princípios éticos duradouros a serem encontrados nessas regulamentações específicas? Por exemplo, é difícil entender a razão pela qual Deus permitiu que Israel comesse alguns animais e não outros. Por que há tanta preocupação com doenças de pele específicas (que nem hoje podemos identificar com certeza) e não com outras doenças mais graves? De todos os males que a sociedade enfrenta, a questão do mofo é realmente tão importante? Estreitando nosso foco para questões de trabalho, devemos esperar que esses textos nos digam algo que possamos aplicar à indústria de alimentos, medicamentos ou à contaminação ambiental de casas e ambientes de trabalho? Como observado anteriormente, encontraremos respostas não perguntando se devemos obedecer a regulamentos feitos para uma situação diferente, mas procurando como as passagens nos orientam a servir ao bem-estar da comunidade.

A permissão para comer animais específicos (Levítico 11)

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Existem várias teorias plausíveis sobre as regras que tratam dos animais para consumo humano em Levítico 11. Cada uma cita evidências de apoio, mas nenhuma alcança um consenso geral. Classificá-los está além do nosso escopo aqui, mas Jacob Milgrom oferece uma perspectiva diretamente relacionada ao ambiente de trabalho. [1] Ele observa três elementos dominantes: Deus limitou severamente a escolha de alimentos de origem animal por parte de Israel, deu-lhes regras específicas para o abate e os proibiu de comer sangue, que representa a vida e, portanto, pertence somente a Deus. À luz disso, Milgrom conclui que o sistema alimentar de Israel era um método de controlar o instinto humano de matar. Em resumo: “Embora possam satisfazer seu apetite por comida, devem conter sua fome de poder. Como a vida é inviolável, ela não pode ser adulterada indiscriminadamente”. [2] Se Deus escolhe se envolver nos detalhes de quais animais podem ser mortos e como isso deve ser feito, como podemos não perceber que a matança de seres humanos é ainda mais restrita e sujeita ao escrutínio de Deus? Essa visão sugere mais aplicabilidade aos dias atuais. Por exemplo, se todas as instalações agrícolas, de criação de animais e de alimentação prestassem contas a Deus diariamente pelo tratamento e pela condição de seus animais, não estariam ainda mais atentas à segurança e às condições de trabalho de seu pessoal?

Apesar dos extensos detalhes em Levítico que iniciam a discussão contínua sobre alimentos na Bíblia, seria inapropriado para qualquer cristão tentar ditar o que os crentes devem fazer e evitar fazer em relação à provisão, preparação e consumo de alimentos. No entanto, o que quer que comamos ou não comamos, Derek Tidball lembra corretamente os cristãos da centralidade da santidade. Qualquer que seja a posição de alguém sobre essas questões complexas, ela não pode ser separada do compromisso do cristão com a santidade. A santidade nos convida a comer e beber “para a glória de Deus”. [3] O mesmo se aplica ao trabalho de produzir, preparar e consumir alimentos e bebidas.

Lidando com doenças de pele e infecções por mofo (Levítico 13—14)

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Em contraste com as leis alimentares, as leis sobre doenças e contaminação ambiental de fato parecem estar principalmente preocupadas com a saúde. A saúde também é uma questão crítica hoje e, mesmo que o livro de Levítico não estivesse na Bíblia, ainda seria uma preocupação nobre e piedosa. Mas seria imprudente supor que Levítico fornece instruções para lidar com doenças contagiosas e contaminação ambiental que podemos aplicar diretamente hoje. Com milhares de anos distantes desse período, é difícil até mesmo ter certeza de que doenças exatamente as passagens tratam. A mensagem duradoura de Levítico é de que o Senhor é o Deus da vida e que ele guia, honra e enobrece todos aqueles que trazem cura às pessoas e ao meio ambiente. Se as regras específicas de Levítico não ditam a maneira como realizamos o trabalho de cura e proteção ambiental, certamente esse ponto maior o faz.

Código de santidade (Levítico 17—27)

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Algumas das instruções do código de santidade parecem relevantes apenas no mundo antigo de Israel, enquanto outras parecem atemporais. Por um lado, Levítico diz aos homens para não estragar as pontas de suas barbas (Lv 19.27), mas, por outro lado, os juízes não devem proferir julgamentos injustos no tribunal, devendo mostrar justiça a todos (Lv 19.15). Como sabemos quais se aplicam diretamente hoje? Mary Douglas explica de maneira útil como uma compreensão clara da santidade como ordem moral tanto coloca o fundamento dessas instruções em Deus como dá sentido à sua variedade.

Desenvolver a ideia de santidade como ordem, não confusão, defende a retidão e a integridade como algo sagrado, tendo a contradição e a dubiedade como algo contrário à santidade. Roubo, mentira, falso testemunho, trapaça em pesos e medidas, todo tipo de dissimulação, como falar mal dos surdos (enquanto finge sorrir diante deles), odiar seu irmão em seu coração (enquanto aparenta falar com ele gentilmente), são claramente contradições entre o que parece e o que é. [1]

Alguns aspectos do que leva à boa ordem (por exemplo, aparar a barba) podem ser importantes em um contexto, mas não em outro. Outros são essenciais em todas as situações. Podemos identificá-los perguntando o que contribui para a boa ordem em nossos contextos específicos. Aqui, exploraremos passagens que tocam diretamente em questões de trabalho e economia.


Colheita e respiga (Levítico 19.9-10)

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Embora os métodos antigos de colheita não fossem tão eficientes quanto hoje, Levítico 19.9-10 instrui os israelitas a torná-los ainda menos eficientes. Primeiro, eles deveriam deixar as margens de seus campos de grãos sem colheita. A largura dessa margem parece ser uma decisão do proprietário. Em segundo lugar, eles não deveriam recolher qualquer produto que caísse no chão. Isso se aplicaria quando um ceifeiro pegasse um feixe de caules e os cortasse com a foice, bem como quando as uvas caíssem de um cacho recém-cortado da videira. Terceiro, eles deveriam colher seus vinhedos apenas uma vez, presumivelmente pegando apenas as uvas maduras, de modo a deixar as uvas ainda não maduras para os pobres e os imigrantes que viviam entre eles. [1] Essas duas categorias de pessoas — os pobres e os estrangeiros — estavam unidas pela falta de propriedade de terras e, portanto, dependiam de seu próprio trabalho manual para se alimentar. As leis que beneficiavam os pobres eram comuns no antigo Oriente Próximo, mas apenas os regulamentos de Israel estendiam esse tratamento ao estrangeiro residente. Essa era mais uma maneira pela qual o povo de Deus deveria ser distinto das nações vizinhas. Outros textos especificam a viúva e o órfão como membros dessa categoria. (Outras referências bíblicas à respiga incluem Êx 22.21-27; Dt 24.19-21; Jz 8.2; Rt 2.17-23; Jó 24.6; Is 17.5-6; 24.13; Jr 6.9; 49.9; Ob 1.5; Mq 7.1.)

Podemos classificar a respiga como uma expressão de compaixão ou justiça, mas, de acordo com Levítico, permitir que outros façam isso em nossa propriedade é fruto da santidade. Fazemos isso porque Deus diz: “Eu sou o Senhor, o Deus de vocês” (Lv 19.10). Isso destaca a distinção entre caridade e respiga. Na caridade, as pessoas doam voluntariamente a outros que estão em necessidade. Isso é uma coisa boa e nobre de se fazer, mas não é disso que Levítico está falando. A respiga é um processo no qual os proprietários de terras têm a obrigação de fornecer às pessoas pobres e marginalizadas acesso aos meios de produção (em Levítico, a terra) e de eles mesmos trabalharem. Ao contrário da caridade, ela não depende da generosidade dos proprietários de terras. Nesse sentido, era muito mais um imposto do que uma oferta de caridade. Além disso, diferentemente da caridade, ela não foi dada aos pobres como pagamento de transferência. Por meio da respiga, os pobres ganhavam a vida da mesma forma que os proprietários de terras, trabalhando nos campos com seu próprio trabalho. Era simplesmente uma ordem mostrando que todos tinham o direito de acessar os meios de provisão criados por Deus.

Nas sociedades contemporâneas, pode não ser fácil discernir como aplicar os princípios da respiga. Em muitos países, a reforma agrária é certamente necessária para que a terra esteja disponível com segurança para os agricultores, em vez de ser controlada por funcionários caprichosos do governo ou proprietários de terras que a obtiveram de forma corrupta. Em economias mais industrializadas e baseadas no conhecimento, a terra não é o principal fator de produção. O acesso à educação, ao capital, aos mercados de trabalho e de produtos, aos sistemas de transporte e a leis e regulamentos não discriminatórios pode ser o que as pessoas pobres precisam para serem produtivas. Como os cristãos podem não ser mais capazes do que qualquer outra pessoa de determinar com precisão quais soluções serão mais eficazes, as soluções precisam vir de toda a sociedade. Certamente, Levítico não contém um sistema pronto para as economias de hoje. Mas o sistema de respiga em Levítico impõe aos proprietários de ativos produtivos a obrigação de garantir que as pessoas marginalizadas tenham a oportunidade de trabalhar para ganhar a vida. Nenhum proprietário individual pode fornecer oportunidades para todos os trabalhadores desempregados ou subempregados, é claro, assim como nenhum agricultor no antigo Israel poderia garantir a respiga para todo o distrito. Mas os proprietários são chamados a ser as pessoas mais importantes na criação de oportunidades de trabalho. Talvez os cristãos em geral também sejam chamados a apreciar o serviço que os empresários prestam em seu papel de criadores de empregos em suas comunidades.

(Para mais informações sobre respiga na Bíblia, veja “Êxodo 22.21-27”em Êxodo e o Trabalho e “Rute 2.17-23”em Rute e o Trabalho em www.teologiadotrabalho.org.)

Agir com honestidade (Levítico 19.11-12)

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Os mandamentos em Levítico contra o roubo, a falsidade, a mentira e a violação do nome de Deus por meio de juramentos falsos encontram expressão mais familiar entre os Dez Mandamentos de Êxodo 20. (Para mais informações sobre honestidade, veja “Dizer a verdade na Bíblia” e “Pode haver exceções à verdade no local de trabalho”, no artigo Verdade e engano em www.teologiadotrabalho.org.) Exclusiva de Levítico, no entanto, é a expressão hebraica por trás de “Não enganem uns aos outros” (Lv 19.11; grifo nosso). Literalmente, ele diz que “uma pessoa não deve mentir para seu amit”, que significa “companheiro”, “amigo” ou “próximo”. Isso certamente inclui membros da comunidade de Israel; mas com base em Levítico 24.19 no contexto de Levítico 24.17-22, também parece incluir o estrangeiro que vivia entre eles. A ética e a moralidade de Israel deveriam ser distintamente melhores do que as das nações ao seu redor, a ponto de tratar os imigrantes de outras nações da mesma maneira que tratavam os cidadãos nativos.

De qualquer forma, o ponto aqui é o aspecto relacional de dizer a verdade em vez de mentir. Uma mentira não é apenas uma distorção de um fato, mas também uma traição a um companheiro, amigo ou vizinho. O que dizemos uns aos outros deve realmente fluir da santidade de Deus em nós, não apenas de uma análise técnica para evitar mentiras descaradas. Quando o então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, disse: “Eu não tive relações sexuais com aquela mulher”, ele pode ter tido alguma lógica tortuosa em mente, segundo a qual a declaração não era tecnicamente uma mentira. Mas seus concidadãos sentiram, com razão, que ele havia quebrado a confiança deles, e mais tarde ele reconheceu e aceitou essa avaliação. Ele havia violado o dever de não mentir aos outros.

Em muitos ambientes de trabalho, é necessário promover os aspectos positivos ou negativos de um produto, serviço, pessoa, organização ou situação. Os cristãos não precisam se recusar a se comunicar vigorosamente para defender um ponto de vista. Mas eles não devem se comunicar de tal maneira que aquilo que transmitem aos outros seja falso. Se palavras tecnicamente verdadeiras se somam a uma falsa impressão na mente de outros, então o dever de dizer a verdade é quebrado. Na prática, sempre que uma discussão sobre veracidade desce para um debate técnico sobre terminologia, é aconselhável nos perguntar se o debate é sobre se devemos mentir aos outros neste sentido.

Tratar os trabalhadores com justiça (Levítico 19.13)

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“Não oprimam nem roubem o seu próximo. Não retenham até a manhã do dia seguinte o pagamento de um diarista” (Lv 19.13). Os diaristas eram geralmente pessoas mais pobres, que não tinham terra para cultivar. Eles dependiam especialmente do pagamento imediato por seu trabalho e, portanto, precisavam ser pagos no final de cada dia (cf. Dt 24.14-15). Em nosso mundo, uma situação comparável ocorre quando os empregadores têm o poder de ditar termos e condições de trabalho que tiram proveito das vulnerabilidades dos trabalhadores. Isso ocorre, por exemplo, quando os funcionários são pressionados a contribuir com os candidatos políticos favoritos de seus chefes ou quando se espera que continuem trabalhando de graça após o horário de expediente. Essas práticas são ilegais na maioria dos lugares, mas, infelizmente, continuam sendo comuns.

Uma situação mais controversa diz respeito aos diaristas que não possuem documentação para um emprego formal. Essa situação ocorre em todo o mundo, aplicando-se a refugiados, migrantes, pessoas que mudam do campo para a cidade, imigrantes ilegais, menores de idade e outros. Essas pessoas geralmente trabalham na agricultura, paisagismo, trabalhos braçais, serviços de alimentação e pequenos projetos, além de ocupações ilegais. Visto que tanto empregadores quanto funcionários estão trabalhando fora da lei, esses trabalhadores raramente recebem a proteção de contratos de trabalho e regulamentos governamentais. Os empregadores podem tirar proveito de sua situação pagando menos do que é pago aos trabalhadores legais, negando benefícios e oferecendo condições de trabalho precárias ou perigosas. Tais funcionários podem estar sujeitos a abuso e assédio sexual. Em muitos casos, ficam completamente à mercê do empregador. É legítimo que os empregadores os tratem dessa maneira? Certamente não.

Mas e se as pessoas em tais situações se oferecerem para empregos abaixo do padrão, aparentemente de boa vontade? Em muitos lugares, trabalhadores não registrados estão disponíveis do lado de fora de lojas de jardinagem e materiais de construção, em mercados agrícolas e outros locais de encontro. É correto empregá-los? Em caso afirmativo, será que é responsabilidade dos empregadores fornecer os benefícios que os trabalhadores legais têm garantido por direito, como salário mínimo, auxílio-saúde, planos de aposentadoria, fundo de garantia e indenização por demissão? Como cristãos, devemos ser rigorosos sobre a legalidade de tal emprego, ou devemos ser flexíveis, com base no fato de que a legislação ainda não alcançou a realidade? Cristãos ponderados inevitavelmente vão diferir em suas conclusões a respeito disso e, portanto, é difícil justificar uma solução do tipo “tamanho único”. Seja como for que um cristão enxergue essas questões, Levítico nos lembra que a santidade (e não a conveniência prática) deve estar no centro de nosso pensamento. E a santidade em questões trabalhistas surge da preocupação com as necessidades dos trabalhadores mais vulneráveis.

Direitos das pessoas com deficiência (Levítico 19.14)

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“Não amaldiçoem o surdo nem ponham pedra de tropeço à frente do cego, mas temam o seu Deus. Eu sou o Senhor” (Lv 19.14). Esses mandamentos pintam um quadro vívido do tratamento cruel dado a pessoas com deficiência. Um surdo não poderia ouvir se fosse amaldiçoado, nem um cego poderia ver a pedra. Por essas razões, Levítico 19.14 lembra os israelitas a “temer o seu Deus”, que ouve e vê como cada um é tratado no ambiente de trabalho. Por exemplo, os trabalhadores com deficiência não precisam necessariamente dos mesmos móveis e equipamentos de escritório que aqueles sem deficiência. Mas eles precisam sim ter a oportunidade de emprego em todo o âmbito de sua produtividade, assim como todos os outros. Em muitos casos, o que uma pessoa com deficiência mais precisa é não ser impedida de trabalhar numa função em que ela é capaz. Novamente, a ordem em Levítico não é que o povo de Deus deva ser caridoso para com os outros, mas que a santidade de Deus dá a todas as pessoas criadas à sua imagem o direito a oportunidades adequadas de trabalho.

Fazer justiça (Levítico 19.15-16)

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“Não cometam injustiça num julgamento; não favoreçam os pobres, nem procurem agradar os grandes, mas julguem o seu próximo com justiça. Não espalhem calúnias entre o seu povo. Não se levantem contra a vida do seu próximo. Eu sou o Senhor”. (Lv 19.15-16)

Esta breve seção defende o conhecido valor bíblico da justiça e, em seguida, amplia consideravelmente o tema. O trecho começa com uma solicitação para juízes, mas termina com uma solicitação para todos. Não julgue processos judiciais com parcialidade e não julgue seu próximo injustamente. A redação do hebraico destaca a tentação de julgar a aparência externa de uma pessoa ou problema. Traduzido ao pé da letra, Levítico 19.15 diz: “Não cometam injustiça no julgamento. Não levantem o rosto do pobre e não honrem o rosto do grande. Com justiça julguem o seu próximo”. Os juízes não devem se deixar levar por seus preconceitos (o “rosto” que percebem) para tratar da questão de forma imparcial. O mesmo vale para nossos relacionamentos sociais no trabalho, na escola e na vida cívica. Em todos os contextos, algumas pessoas são privilegiadas e outras oprimidas por causa de preconceitos sociais de todo tipo. Imagine a diferença que nós cristãos poderíamos fazer se simplesmente esperássemos para emitir julgamentos apenas depois de conhecer pessoas e situações em profundidade. E se dedicássemos um tempo para conhecer melhor a pessoa irritante em nossa equipe antes de reclamar dela pelas costas? E se ousássemos passar um tempo com pessoas fora de nossa zona de conforto na escola, na universidade ou na vida social? E se procurássemos jornais, TV e mídias que oferecessem uma perspectiva diferente daquela com a qual nos sentimos confortáveis? Escavar abaixo da superfície nos daria mais sabedoria para fazer nosso trabalho bem e com justiça?

A última parte de Levítico 19.16 nos lembra que o preconceito social não é uma questão simples. Literalmente, o hebraico diz: “Não se coloque contra o sangue do seu próximo”. Na linguagem do tribunal, no trecho anterior, o testemunho tendencioso (“calúnia”) põe em risco a vida (“sangue”) do acusado. Nesse caso, não apenas seria errado falar palavras tendenciosas, mas seria errado até ficar de braços cruzados, sem se oferecer para testemunhar em favor dos falsamente acusados.

Os líderes nos ambientes de trabalho devem frequentemente agir como árbitros. Os trabalhadores podem testemunhar uma injustiça no ambiente de trabalho e legitimamente questionar se é ou não apropriado se envolver. Levítico afirma que permanecer proativamente a favor dos maltratados é um elemento essencial para pertencer ao povo santo de Deus.

Em um nível mais amplo, Levítico traz sua visão teológica de santidade para toda a comunidade. A saúde da comunidade e a economia que compartilhamos está em jogo. Hans Kung aponta a inter-relação necessária entre negócios, política e religião:

Não se deve esquecer que o pensamento e as ações econômicas também não são isentos ou neutros em termos de valores... Assim como a responsabilidade social e ecológica das empresas não pode ser simplesmente imposta aos políticos, a responsabilidade moral e ética não pode ser simplesmente imposta para a religião... Não, a ação ética não deve ser apenas um acréscimo particular aos planos de marketing, estratégias de vendas, contabilidade ecológica e balanços sociais, mas deve formar a estrutura natural para a ação social humana. [1]

Todo tipo de ambiente de trabalho — doméstico, empresarial, governamental, acadêmico, médico, agrícola e todo o resto — tem um papel distinto a desempenhar. No entanto, todos são chamados a ser santos. Em Levítico 19.15-16, a santidade começa por ver os outros com uma profundidade de percepção que vai além do valor aparente.

Amar o próximo como a si mesmo (Levítico 19.17-18)

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O versículo mais famoso de Levítico pode ser o mandamento: “Ame cama um o seu próximo como a si mesmo” (Lv 19.18). Esse imperativo é tão abrangente que tanto Jesus quanto os rabinos o consideravam um dos dois “grandes” mandamentos, sendo o outro “Ouve, ó Israel, o Senhor, o nosso Deus, o Senhor é o único Senhor” (Mc 12.29-31; cf. Dt 6.4). Ao citar Levítico 19.18, o apóstolo Paulo escreveu que “o amor é o cumprimento da lei” (Rm 13.10).

Trabalhar pelos outros tanto quanto por nós mesmos

O cerne da ordem está nas palavras “como a si mesmo”. Pelo menos até certo ponto, a maioria de nós trabalha para se sustentar. Há um forte elemento de interesse próprio no trabalho. Sabemos que, se não trabalharmos, não comeremos. As Escrituras elogiam essa motivação (2Ts 3.10), mas o aspecto “como a si mesmo” de Levítico 19.18 sugere que devemos estar igualmente motivados a servir aos outros por meio de nosso trabalho. Esse é um chamado muito importante: trabalhar tanto para servir aos outros quanto para atender às nossas próprias necessidades. Se tivéssemos de trabalhar o dobro para conseguir isso — digamos, um turno por dia para nós mesmos e outro para o próximo — seria quase impossível.

Providencialmente, é possível amar a nós mesmos e ao próximo por meio do mesmo trabalho, pelo menos na medida em que nosso trabalho forneça algo de valor a clientes, cidadãos, estudantes, familiares e outros consumidores. Um professor recebe um salário que paga as contas e, ao mesmo tempo, transmite aos alunos conhecimentos e habilidades que serão igualmente valiosos para eles. Uma camareira de hotel recebe seu salário enquanto oferece aos hóspedes um quarto limpo e saudável. Na maioria dos empregos, não ficaríamos empregados por muito tempo se não oferecêssemos aos outros um valor pelo menos igual ao que recebemos de salário. Mas e se nos encontrarmos em uma situação em que possamos distorcer os benefícios a nosso favor? Algumas pessoas podem ter poder suficiente para exigir salários e bônus que excedam o valor que realmente fornecem. Pessoas com conexões políticas ou envolvida em corrupção podem conseguir grandes recompensas para si mesmos na forma de contratos, subsídios, bônus e empregos temporários, enquanto fornecem pouco valor para os outros. Quase todos nós temos momentos em que podemos fugir de nossos deveres e, ainda assim, ser pagos.

Pensando de forma mais ampla, se temos uma ampla gama de opções em nosso trabalho, qual é o papel de servir aos outros em nossas decisões de trabalho, em comparação com fazer o máximo para nós mesmos? Quase todo tipo de trabalho pode servir aos outros e agradar a Deus. Mas isso não significa que todo emprego ou oportunidade de trabalho seja igualmente útil para os outros. Amamos a nós mesmos quando fazemos escolhas de trabalho que nos trazem altos salários, prestígio, segurança, conforto e trabalho fácil. Amamos os outros quando escolhemos um trabalho que forneça bens e serviços necessários, oportunidades para pessoas marginalizadas, proteção para a criação de Deus, justiça e democracia, verdade, paz e beleza. Levítico 19.18 sugere que os últimos devem ser tão importante para nós quanto os primeiros.

Ser legal?

Em vez de nos esforçarmos para cumprir esse alto chamado, é fácil transformar nosso entendimento de “amar ao próximo como a si mesmo” em algo banal como “ser legal”. Mas ser legal muitas vezes nada mais é do que uma fachada e uma desculpa para nos desconectarmos das pessoas ao nosso redor. Levítico 19.17 nos ordena fazer o oposto. “Repreendam com franqueza o seu próximo para que, por causa dele, não sofram as consequências de um pecado” (Lv 19.17). Esses dois mandamentos — tanto amar quanto repreender o próximo — parecem improváveis, mas são reunidos no provérbio: “Melhor é a repreensão feita abertamente do que o amor oculto” (Pv 27.5).

Lamentavelmente, muitas vezes a lição que aprendemos na igreja é sempre sermos legais. Se isso se tornar nossa regra no ambiente de trabalho, os efeitos pessoais e profissionais podem ser desastrosos. A gentileza pode induzir os cristãos a permitirem que agressores e predadores manipulem e abusem deles — e que façam o mesmo com outros. Para ser legal, um gerente cristão pode encobrir as deficiências dos trabalhadores nas avaliações de desempenho, privando-os de um motivo para aprimorar suas habilidades e manter seus empregos a longo prazo. Ao querer ser legal, qualquer pessoa pode guardar ressentimento, alimentar rancor ou buscar vingança. Levítico nos diz que amar as pessoas às vezes significa repreender honestamente. Esta não é uma licença para a insensibilidade. Quando repreendemos, precisamos fazê-lo com compaixão e humildade — afinal, também podemos precisar ser repreendidos na situação.

Para uma discussão mais completa sobre o que significa amar ao próximo como a si mesmo no ambiente de trabalho, veja “A abordagem de comando na prática” e “A abordagem do caráter” em Visão geral da ética no trabalho em www.teologiadotrabalho.org.

Quem é meu próximo? (Levítico 19.33-34)

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Levítico ensina que os israelitas não devem maltratar (ou oprimir) os estrangeiros que viviam entre eles (Lv 19.33). (O mesmo verbo hebraico aparece em Lv 25.17, “Não explorem um ao outro.”) A ordem continua: “O estrangeiro residente que viver com vocês deverá ser tratado como o natural da terra. Amem-no como a si mesmos, pois vocês foram estrangeiros no Egito. Eu sou o Senhor, o Deus de vocês” (Lv 19.34). Esse versículo é um exemplo particularmente forte da conexão inquebrável em Levítico entre a força moral da lei (amar o estrangeiro “como a si mesmos”) e o próprio ser de Deus: “Eu sou o Senhor, o Deus de vocês”. Você não oprime estrangeiros pois pertence a um Deus que é santo.

Estrangeiros residentes, junto com viúvas e pobres (veja Lv 19.9-10 acima), tipificam os forasteiros sem poder. Nos ambientes de trabalho de hoje, as diferenças de poder surgem não apenas das diferenças de nacionalidade e gênero, mas também de uma variedade de outros fatores. Seja qual for a causa, a maioria dos ambientes de trabalho desenvolve uma hierarquia de poder que é bem conhecida por todos, independentemente de ser abertamente reconhecida. Com Levítico 19.33-34, podemos concluir que os cristãos devem tratar outras pessoas com justiça nos negócios, como uma expressão de adoração genuína a Deus.

Negociar com justiça (Levítico 19.35-36)

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Essa passagem proíbe trapaças nos negócios, usando medidas enganosas de comprimento, peso ou quantidade, e isso se torna ainda mais específica ao mencionar balanças e pesos, equipamentos comuns do comércio. As várias medidas mencionadas indicam que essa regra se aplicaria a um amplo espectro, desde vastas extensões de terra até a menor quantidade de mercadorias secas e úmidas. A palavra hebraica tsedeq (“honesto”) que aparece quatro vezes em Levítico 19.36 denota um caráter que é certo em termos de integridade e de irrepreensibilidade. Todos os pesos e medidas devem ser precisos. Em suma, os compradores devem receber aquilo pelo que pagaram.

Os vendedores possuem inúmeras e variadas maneiras de entregar menos do que os compradores pensam que estão recebendo. Essas medidas não se limitam a medidas falsificadas de peso, área e volume. Afirmações exageradas, estatísticas enganosas, comparações irrelevantes, promessas que não podem ser cumpridas, propaganda enganosa e termos e condições ocultos são apenas a ponta do iceberg. (Para aplicações em vários ambientes de trabalho, veja “Apreciação da verdade no ambiente de trabalho” em www.teologiadotrabalho.org.)

Uma mulher que trabalha para uma grande emissora de cartões de crédito conta uma história perturbadora:

Nosso negócio é fornecer cartões de crédito a pessoas pobres com histórico de crédito ruim. Embora cobremos altas taxas de juros, a taxa de inadimplência de nossos clientes é tão alta que não podemos lucrar simplesmente cobrando juros. Temos de encontrar uma maneira de cobrar encargos.
Um desafio é que a maioria de nossos clientes tem medo de se endividar ainda mais e, por isso, paga o saldo mensal em dia. Assim, não há encargos para cobrarmos. Portanto, temos um truque para pegá-los desprevenidos. Nos primeiros seis meses, enviamos uma conta no dia 15 do mês, com vencimento no dia 15 do seguinte. Eles aprendem o padrão e diligentemente fazem o pagamento no dia 14 todos os meses. No sétimo mês, enviamos a fatura no dia 12, com vencimento para o dia 12 do mês seguinte. Eles não percebem a mudança e fazem o pagamento no dia 14, como de costume. Agora nós os pegamos. Cobramos uma taxa de serviço de US$ 30 pelo atraso no pagamento. Além disso, como eles estão inadimplentes, podemos aumentar sua taxa de juros. No mês seguinte, eles já estão em atraso e em um ciclo que gera encargos para nós, mês após mês.[1]

É difícil ver como qualquer comércio ou negócio que dependa de mentir ou enganar as pessoas para obter lucro possa ser uma linha de trabalho adequada para aqueles que são chamados a seguir um Deus santo.

O ano sabático e o ano do jubileu (Levítico 25)

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Levítico 25 ordena um ano sabático, um em cada sete (Lv 25.1-7), e um ano de jubileu, um em cada cinquenta (Lv 25.8-17), para santificar a economia interna de Israel. No ano sabático, cada campo deveria ficar em repouso, o que parece ser uma boa prática agrícola. O ano do jubileu era muito mais radical. A cada 50 anos, todas as terras arrendadas ou hipotecadas deveriam ser devolvidas a seus proprietários originais, e todos os escravos e trabalhadores em servidão deveriam ser libertados (Lv 25.10). Isso naturalmente apresentou dificuldades nas transações bancárias e de terras, e disposições especiais foram projetadas para melhorá-las (Lv 25.15-16), que exploraremos em seguida. A intenção subjacente é a mesma vista na lei da respiga (Lv 19.9-10), ou seja, garantir que todos tenham acesso aos meios de produção, seja a fazenda da família ou simplesmente os frutos de seu próprio trabalho.

Não se sabe com certeza se Israel realmente observou o ano do jubileu ou as disposições antiescravidão associadas a ele (por exemplo, Lv 25.25-28,39-41) em larga escala. Independentemente disso, o simples detalhe de Levítico 25 sugere fortemente que tratemos as leis como algo que Israel fez ou deveria ter implementado. Em vez de ver o ano do jubileu como uma ficção literária utópica, parece melhor acreditar que sua negligência generalizada ocorreu não porque o jubileu era inviável, mas porque os ricos não estavam dispostos a aceitar as implicações sociais e econômicas que teriam sido dispendiosas e perturbadoras para eles. [1]

Proteção para os necessitados

Depois que Israel conquistou Canaã, a terra foi atribuída aos clãs e famílias de Israel, conforme descrito em Números 26 e Josué 15—22. Esta terra nunca deveria ser vendida definitivamente, pois pertencia ao Senhor, não ao povo (Lv 25.23-24). [2] O efeito do jubileu era impedir que qualquer família se tornasse permanentemente sem terra por meio da venda, hipoteca ou arrendamento permanente da terra que lhe havia sido designada. Em essência, qualquer venda de terra era realmente um contrato de arrendamento que não poderia durar mais do que o próximo ano do jubileu (Lv 25.15). Isso fornecia um meio para que os necessitados arrecadassem dinheiro (arrendando a terra) sem privar as futuras gerações da família dos meios de produção. As regras de Levítico 25 não são fáceis de decifrar, e Milgrom as entende ao definir três estágios progressivos de pobreza. [3]

  1. O primeiro estágio é descrito em Levítico 25.25-28. Uma pessoa poderia simplesmente se tornar pobre. O cenário presumido é o de um agricultor que pediu dinheiro emprestado para comprar sementes, mas não colheu o suficiente para pagar o empréstimo. Ele, portanto, deve vender parte da terra a um comprador, a fim de cobrir a dívida e comprar sementes para o próximo plantio. Se houvesse uma pessoa pertencente ao clã do agricultor que desejasse atuar como “resgatador”, ela poderia pagar ao comprador de acordo com o número de colheitas anuais restantes até o ano do jubileu; depois disso, a terra voltaria para o agricultor. Até lá, a terra pertenceria ao resgatador, que cederia a terra para que o fazendeiro a cultivasse.
  2. O segundo estágio era mais sério (Lv 25.35-38). Supondo que a terra não fosse resgatada e que o agricultor voltasse a ter uma dívida da qual não pudesse se recuperar, ele perderia todas as suas terras para o credor. Nesse caso, o credor deveria emprestar ao agricultor os fundos necessários para continuar trabalhando como arrendatário em sua própria terra, mas sem cobrar juros. O agricultor amortizava esse empréstimo com o lucro obtido com as colheitas, talvez eliminando a dívida. Nesse caso, o agricultor recuperaria sua terra. Se o empréstimo não fosse totalmente pago antes do jubileu, então a terra voltaria para o fazendeiro ou seus herdeiros.
  3. O terceiro estágio era ainda mais sério (Lv 25.39-43). Supondo que o agricultor no estágio anterior não pudesse pagar o empréstimo nem mesmo sustentar a si mesmo e sua família, ele ficaria temporariamente vinculado à família do credor. Como trabalhador vinculado, ele trabalharia por salários, que eram inteiramente voltados para redução da dívida. No ano do jubileu, ele recuperaria sua terra e sua liberdade (Lv 25.41). Ao longo desses anos, o credor não deveria escravizá-lo, vendê-lo como escravo ou dominá-lo impiedosamente (Lv 25.42-43). O credor deve “temer a Deus”, aceitando o fato de que todo o povo de Deus é “escravo” (ou “servo”) de Deus que ele graciosamente tirou do Egito. Ninguém mais pode possuí-los, porque Deus já os possui.

O ponto principal dessas regras é que os israelitas nunca deveriam se tornar escravos de outros israelitas. Era concebível, porém, que israelitas empobrecidos pudessem se vender como escravos a ricos estrangeiros residentes que viviam na terra (Lv 25.47-55). Mesmo que isso tenha acontecido, a venda não deveria ser permanente. As pessoas que se vendiam deviam manter o direito de se livrar da escravidão, se viessem a prosperar. Caso contrário, um parente próximo poderia intervir como “resgatador”, pagando ao estrangeiro de acordo com o número de anos restantes até o jubileu, quando os israelitas empobrecidos seriam libertados. Durante esse tempo, eles não deveriam ser tratados com severidade, mas seriam considerados trabalhadores contratados.

O que o ano do jubileu significa para hoje?

O ano do jubileu operava dentro do contexto do sistema de parentesco de Israel para a proteção do direito inalienável do clã de trabalhar em sua terra ancestral, que eles entendiam ser propriedade de Deus e que deveria ser desfrutada por eles como um benefício de seu relacionamento com Deus. Essas condições sociais e econômicas não existem mais e, do ponto de vista bíblico, Deus não administra mais o resgate por meio de um único estado político. Devemos, portanto, ver o jubileu do nosso ponto de vista atual.

Existe uma grande variedade de perspectivas sobre a aplicação adequada — se é que há uma — do jubileu às sociedades de hoje. Para citar um exemplo que se relaciona seriamente com as realidades contemporâneas, Christopher Wright escreveu extensivamente sobre a apropriação cristã das leis do Antigo Testamento. [4] Ele identifica princípios implícitos nessas leis antigas, a fim de compreender suas implicações éticas para os dias de hoje. Seu tratamento do ano do jubileu considera, portanto, três ângulos básicos: o teológico, o social e o econômico. [5]

Teologicamente, o jubileu afirma que o Senhor não é apenas o Deus que possui a terra de Israel; ele é soberano sobre todo o tempo e a natureza. Seu ato de resgatar seu povo do Egito trazia o compromisso de sustentá-los em todos os níveis, porque eles eram seus. Portanto, a observância de Israel quanto ao sábado, ao ano sabático e ao ano do jubileu era uma questão de obediência e confiança. Em termos práticos, o ano do jubileu encarna a confiança que todos os israelitas poderiam ter de que Deus proveria suas necessidades imediatas e o futuro de suas famílias. Ao mesmo tempo, exorta os ricos a confiarem que tratar os credores com compaixão ainda trará um retorno adequado.

Olhando para o ângulo social, a menor unidade da estrutura de parentesco de Israel era a família, que incluiria de três a quatro gerações. O jubileu forneceu uma solução socioeconômica para manter a família inteira, mesmo diante da calamidade econômica. A dívida familiar era uma realidade nos tempos antigos, como é hoje, e seus efeitos incluem uma lista assustadora de males sociais. O jubileu procurou conter essas consequências sociais negativas, limitando sua duração, para que as gerações futuras não tivessem de arcar com o fardo de seus ancestrais distantes. [6]

O ângulo econômico revela os dois princípios que podemos aplicar hoje. Primeiro, Deus deseja uma distribuição justa dos recursos da terra. De acordo com o plano de Deus, a terra de Canaã foi distribuída de forma equitativa entre o povo. O jubileu não dizia respeito a redistribuição, mas a restauração. De acordo com Wright, “o jubileu, portanto, representa uma crítica não apenas à massiva acumulação privada de terra e de riqueza relacionada, mas também a formas em larga escala de coletivismo ou nacionalização que destroem qualquer senso significativo de propriedade pessoal ou familiar”. [7] Em segundo lugar, as unidades familiares devem ter a oportunidade e os recursos para se sustentarem.

Na maioria das sociedades modernas, as pessoas não podem ser vendidas como escravas para pagar dívidas. As leis de falência fornecem alívio para aqueles que têm dívidas impagáveis, e os descendentes não são responsáveis ​​pelas dívidas dos antepassados. A propriedade básica necessária para a sobrevivência pode ser protegida contra apreensão. No entanto, Levítico 25 parece oferecer uma base mais ampla do que as leis de falências contemporâneas. Ela se baseia não apenas em proteger a liberdade pessoal e um pouco de propriedade para pessoas carentes, mas em garantir que todos tenham acesso aos meios de ganhar a vida e escapar da pobreza multigeracional. Como mostram as leis de respiga em Levítico, a solução não é esmola nem a apropriação em massa da propriedade, mas valores e estruturas sociais que dão a cada pessoa a oportunidade de trabalhar de forma produtiva. As sociedades modernas realmente ultrapassaram o antigo Israel nesse aspecto? E quanto aos milhões de pessoas escravizadas ou em trabalho escravo, ainda hoje, enfrentando situações em que as leis antiescravidão não são aplicadas adequadamente? O que seria necessário para que os cristãos fossem capazes de oferecer soluções reais?

Conclusões de Levítico

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A conclusão mais importante que podemos tirar de Levítico é que somos chamados como povo de Deus a refletir a santidade de Deus em nosso trabalho. Isso nos chama a nos separar das ações de qualquer pessoa ao nosso redor que se oponha aos caminhos de Deus. Quando refletimos a santidade de Deus, nos encontramos na presença de Deus, seja no trabalho, em casa, na igreja ou na sociedade. Refletimos a santidade de Deus não pendurando versículos das Escrituras, recitando orações, usando cruzes ou mesmo sendo gentis. Fazemos isso amando nossos colegas de trabalho, clientes, alunos, investidores, concorrentes, rivais e todos que encontramos, tanto quanto amamos a nós mesmos. Em termos práticos, isso significa fazer tanto bem aos outros por meio de nosso trabalho quanto fazemos a nós mesmos. Isso anima nossa motivação, nossa diligência, nosso exercício de poder, nosso desenvolvimento de habilidades e talvez até nossa escolha de trabalho. Também significa trabalhar em benefício de toda a comunidade e em harmonia com o restante da sociedade, na medida em que depende de nós. E significa trabalhar para mudar as estruturas e os sistemas da sociedade para que reflitam a santidade de Deus como aquele que libertou Israel da escravidão e da opressão. Quando fazemos isso, descobrimos, pela graça de Deus, que suas palavras se cumprem: “Estabelecerei a minha habitação entre vocês e não os rejeitarei. Andarei entre vocês e serei o seu Deus, e vocês serão o meu povo” (Lv 26.11-12).